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O autarca estudante

  • Portugal Diário
  • 14 fev 2008, 17:38

Presidente da Câmara de Ponte da Barca «tirou» 12º ano no âmbito das Novas Oportunidades

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O presidente socialista da Câmara de Ponte da Barca, Vassalo Abreu, decidiu agarrar as «Novas Oportunidades» criadas pelo Governo e voltou à escola, acabando de receber das mãos da ministra da Educação o diploma do 12º ano.

«É verdade! Até aqui, tinha apenas o antigo Curso Geral do Comércio, equivalente ao actual 9º ano», disse à Lusa o autarca, admitindo ser um dos presidentes de câmara portugueses com menos habitações literárias.

Vassalo Abreu sustentou que isso nunca lhe causou qualquer complexo ou sentimento de inferioridade.

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Fazendo uma analogia entre o ditado que reza que os homens não se medem aos palmos, Vassalo Abreu defende que também os autarcas e os políticos não se medem aos canudos.

«Quando era novo, jogava futebol. E, apesar de ter apenas 1,70 metros, sabe qual era a minha posição? Guarda-redes. É certo que não era um rei na baliza, nem pouco mais ou menos, e a minha altura também não ajudava muito. Mas era levezinho e muito ágil», afirma, com algum humor.

Em 2005, já «com muito mais peso» e apesar de ter apenas o 9º ano como habilitações literárias, Vassalo Abreu foi eleito presidente da Câmara de Ponte da Barca, porque, como diz, os eleitores reconheceram que conservava intacta a sua "agilidade" para trabalhar pelo desenvolvimento do concelho e para resolver os problemas da população.

«Como este é um cargo normalmente ocupado por doutores e engenheiros, de vez em quando há alguém que, na dúvida, ainda me trata com essa deferência. Mas eu digo logo, em tom de brincadeira, que sim senhor, que já fui quatro vezes ao Brasil, que tenho a carta de condução e que uso gravata, mas que o meu nome é, apenas, Vassalo Abreu», refere.

Em Abril de 2007, Vassalo Abreu decidiu voltar à escola, ao abrigo do Programa Novas Oportunidades, para obter o 12º ano.

Reitera, no entanto, que não o fez por sentir algum embaraço com o facto de ter apenas o 9º ano, mas sim para (se) certificar (d)as suas competências.

Em Dezembro, e depois de ter acumulado os créditos necessários, submeteu-se a avaliação e ficou aprovado, tendo terça-feira recebido o diploma das mãos da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.

Agora, aos 57 anos de idade, Vassalo já sonha, quando tiver mais tempo livre, candidatar-se à universidade, «talvez para fazer Direito».

Filho de um antigo sargento da Guarda-Fiscal, Vassalo Abreu era o mais velho de cinco irmãos e teve que abandonar a escola, após completar o Curso Geral do Comércio, e ir trabalhar para ajudar a pagar o colégio da irmã.

«Hoje, essa minha irmã é professora e todos os meus irmãos estão bem na vida. Posso dizer que eu sou o que está pior», afirma.

Vassalo Abreu ingressou nas Finanças, em 1968, tendo subido a pulso na carreira, até chegar ao topo, após o que se decidiu «aventurar» pelas lides autárquicas.

«Ser presidente de câmara é estar permanentemente submetido a um processo de certificação de competências, só que aqui os júris são os munícipes. Mas eu não tenho medo de ser avaliado e continuo a confiar na minha agilidade. Só espero é ser muito melhor como autarca do que fui como guarda-redes», sustenta.
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