O Tribunal de Gondomar ouviu esta tarde, durante o julgamento do «Apito Dourado», o inspector José Novais de Sousa que, ao longo da investigação acompanhou as intercepções telefónicas a Valentim Loureiro, Castro Neves e José Luís Oliveira.
Questionado sobre os indícios recolhidos, o investigador recordou as diversas vezes em que o dirigente do Gondomar Sport Clube (GSC) ligava aos árbitros alegadamente a pressionar. «Acontecia muito ligarem a perguntar: «O senhor está preparado para apitar o jogo?». Novais de Sousa recorda especialmente que «num jogo com o Freamunde», o árbitro até respondeu (a José Luís Oliveira) «Eu nem gosto do Freamunde».
Noutra ocasião, aquando do jogo Gondomar/Porto B, em Setembro 2003, apitado por Pedro Sanhudo, José Oliveira terá contactado o árbitro perguntando-lhe o que se podia fazer, ao que Sanhudo respondeu que «a coisa estaria controlada».
«Pague-lhe lá a conta»
«Quando José Luís Oliveira necessitava de uma intervenção maior de Pinto de Sousa, para nomear árbitros, ligava ao major Valentim Loureiro», referiu ainda o investigador.
Novais de Sousa relatou ainda o exemplo de uma conversa entre José Luís Oliveira e Valentim Loureiro em que o primeiro informa que vai jantar com o árbitro Pedro Sanhudo, ao que o major terá respondido: «Pague-lhe lá a conta».
Moçambique: «uma oportunidade certamente rara»
Sobre a viagem de Pinto de Sousa a Moçambique integrado na comitiva do então primeiro-ministro, Durão Barroso, em Março de 2004, a defesa do arguido quis saber por que razão a PJ classificou a situação como «uma oportunidade certamente rara», ao que Leonor Brites esclareceu:
«Não é frequente que empresários possam acompanhar o primeiro-ministro em viagens ao estrangeiro. Não estará certamente à disposição de todos os empresários portugueses». O advogado João Medeiros questionou ainda se os inspectores cuidaram de saber «quem pagou a estadia, a duração da mesma e outros detalhes» ao que a testemunha respondeu: «Não me estava atribuída essa tarefa».
«Não sou um instrumento para medir decibéis
Na parte da manhã, a testemunha Leonor Matias referiu ter assistido a três jogos envolvendo o Gondomar. Confessando-se leiga em futebol, a inspectora referiu que estava atenta às jogadas que suscitavam «mais protestos dos adeptos».
«A senhora ia ali para medir o ruído dos adeptos?», ironizou o advogado Carlos Duarte que representa os árbitros Jorge Saramago e António Eustáquio, ao que a investigadora retorquiu: «não sou um instrumento para medir decibéis», especificando que a diligência externa visava apreciar «o que acontecia antes, durante e depois» das partidas.
O julgamento prossegue na manhã de quarta-feira com a inquirição dos inspectores da PJ Jorge Melo e António Barros.
Leia a primeira parte deste artigo: «Apito: Alguma vez lhe pedi para fazer fretes?»
![Apito: «Está preparado para apitar o jogo?» - TVI Apito: «Está preparado para apitar o jogo?» - TVI](https://img.iol.pt/image/id/8943923/400.jpg)
Apito: «Está preparado para apitar o jogo?»
- Cláudia Rosenbusch
- 20 fev 2008, 19:14
![Valentim Loureiro no início do julgamento do caso Apito Dourado (João Abreu Miranda/LUSA)](https://img.iol.pt/image/id/8943923/1024.jpg)
Inspector explica como Oliveira e Valentim procediam com os árbitros
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