Apito: «Major disse que estava a tentar tramá-lo» - TVI

Apito: «Major disse que estava a tentar tramá-lo»

Valentim Loureiro no início do julgamento do caso Apito Dourado (João Abreu Miranda/LUSA)

Inspectora contou que Valentim a abordou ontem em «tom agressivo»

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(NOTÍCIA ACTUALIZADA ÀS 14:10)

A inspectora da PJ, Leonor Brites, que ontem depôs no julgamento do «Apito Dourado» informou esta manhã o tribunal de que Valentim Loureiro a abordou em tom agressivo no final da audiência de terça-feira.

O acontecimento «acto contínuo ao julgamento», ocorreu «no átrio do tribunal», relatou a investigadora durante a audiência desta manhã.

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«Os árbitros eram escolhidos a dedo»

«O senhor major Valentim Loureiro abordou-me num tom agressivo, confrontou-me com o teor das declarações, insinuando que eu queria tramá-lo e não ia conseguir».

«A senhora não me intimida porque a verdade está do meu lado, não tenho medo da polícia», ter-lhe-á dito o arguido.

«Disse ainda que eu estava a tentar tramá-lo. Afirmou-o num tom de voz perfeitamente audível, exaltado e agressivo», acrescentou.

Em resposta, a inspectora terá dito: «senhor major eu não vou conversar consigo».

«As pessoas são livres de falarem com quem quiserem»

Depois de Leonor Brites afirmar que a abordagem do arguido não lhe «provocou qualquer efeito, a não ser indignação», o juiz Carneiro da Silva reduziu o caso a um «episódio menos feliz». «As pessoas são livres de falarem com quem quiserem, a ter-se passado assim não será a atitude mais correcta, mas as atitudes ficam com quem as pratica», disse.

Perante as declarações da testemunha, Valentim Loureiro manifestou vontade de falar, mas dado tratar-se de matéria lateral à acusação o juiz não permitiu. «O senhor quer falar sobre o processo? Não quer? Então faça o favor de se calar e sentar».

As defesas dos restantes arguidos dividiram-se entre a indignação pelo facto de a testemunha ter levado a julgamento um episódio alheio à acusação, e que apenas serviria para indispor o colectivo em relação ao arguido, enquanto os advogados de Pinto de Sousa e de Castro Neves pretenderam explorar o pormenor, referido por Leonor Brites, de que os incidentes ocorreram quando esta se encontrava acompanhada de outros dois inspectores, também testemunhas neste processo.

Confrontada com esta questão, Leonor Brites respondeu: «Não falámos de nada, a não ser do que aconteceu à porta do tribunal». Refira-se, além disso, que as testemunhas que a acompanhavam já depuseram em audiência, pelo que o seu depoimento já não poderia ser condicionado.

«Senhor major sujeito a grande stress»

O procurador Gonçalo Silva desvalorizou o incidente, atribuindo-o ao facto de «o senhor major estar sujeito a grande stress, como estamos todos». E acrescentou: «Percebo que lhe custe ouvir algumas coisas, que até poderão ser verdade ou não». E rematou: «Não devem repetir-se com estas ou outras testemunhas».



À saída da saula de audiência, Valentim Loureiro defendeu-se das acusações formuladas pela inspectora. «Limitei-me a dizer à senhora inspectora que deveria rever bem o conceito de despacho e de adjudicação. A senhora inspectora disse que eu tinha feito duas adjudicações e, na verdade, apenas fiz uma».

Major reage

Valentim reportava-se às declarações de Leonor Brites, formuladas ontem em audiência, sobre o alegado favorecimento da empresa «Globaldesign», pela câmara municipal de Gondomar, à empresa de um amigo do major, num concurso para a elaboração de um boletim informativo da autarquia.

Precisamente, sobre o programa «Urban II», a inspectora referiu, esta quarta-feira que o arguido José Horta Ferreira, designer, acusado de um crime de prevaricação em cumplicidade, «nunca disse: senhor major, adjudique-me este serviço», muito embora tal se pudesse inferir das escutas telefónicas. Ainda segundo Leonor Brites foi «o major quem fixou o preço».
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