Casa Pia: ela esteve na casa de Jorge Ritto - TVI

Casa Pia: ela esteve na casa de Jorge Ritto

Jorge Ritto

Educadora recorda noite, de 1982, em que foi buscar alunos a Cascais

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Isabel Evangelista foi uma das educadoras da Casa Pia que, na noite de 2 de Março de 1982, esteve em Cascais na casa do ex-diplomata, Jorge Ritto, à procura dos dois alunos da instituição. «"Teresa e Jaime" estavam no sofá, vestidos, cada um para seu lado», recordou no Tribunal de Monsanto, esta quinta-feira, durante o seu testemunho em mais uma audiência de julgamento.

O depoimento da educadora era aguardado com alguma expectativa, depois de várias testemunhas - já ouvidas pelo colectivo de juízes responsáveis pelo processo - terem relatado alguns comentários que fez sobre o que viu e ouviu nessa noite.

Não viu fotografias

Em tribunal, uma funcionária da Casa Pia recordou que a ex-educadora lhe disse ter visto «fotografias nojentas relacionadas com sexo». No entanto, esta quinta-feira, Isabel Evangelista negou ter feito essa afirmação e garante que não só não viu fotografias, como nenhum nome lhe foi referido.

«A miúda está cá»

Depois de dar falta de «Teresa» e sabendo que estava acompanha de Jaime, Isabel foi ao colégio do jovem saber do seu paradeiro. Também ele não tinha regressado à instituição. À saída, conta que foi abordada por um colega do rapaz que reconheceu saber onde estava o casal, mas que alegou não saber o caminho para a casa do «tio» do Jaime. Deu o nome de um colega que «sabia» e, junto com o educador «dos rapazes», foram para Cascais. Ela, o colega e o menor.

O jovem que ia dar as indicação afirmou diversas vezes «que o tio do Jaime lhe dava muito dinheiro», lembra a ex-funcionária da Casa Pia. «Os agentes da PSP do Estoril foram connosco» à casa de Jorge Ritto.

Os educadores tocaram na campainha do porteiro, e após não obterem resposta, bateram à porta de alguns vizinhos. «No quarto andar ninguém respondeu», conta. Quando descia no elevador, com o adolescente que tinha indicado o caminho, estava um senhor «muito zangado» e Isabel perguntou se tinha visto o casal. O homem respondeu: «Não se vá embora que a miúda está cá».

Porteiro disse que era surdo

Mas o alegado vizinho do ex-embaixador disse mais coisas que Isabel não «ouviu». Recorda-se apenas de mais duas afirmações: «Vêm para cá tantos» e «esta casa não tem sossego, tem sempre muito barulho».

Os educadores insistiram na campainha do porteiro, que acabou por se desculpar com o facto de «ser surdo» para não ter atendido aos toques insistentes.

Para o facto de ter deixado os jovens entrar, o porteiro justificou que «tinha autorização do embaixador para abrir a porta ao sobrinho».

«Não trouxemos nada»

Isabel garante que só ela e o educador entraram na casa de Ritto e nem passaram da sala, onde estavam deitados os jovens. «Não vi mais nada, nem ninguém». No entanto, reconhece que o outro adolescente, que mostrou o caminho, quis entrar na casa do ex-diplomata para lhe mostrar «umas fotografias» e ela não autorizou.

Também no regresso a casa, admite que os casapianos comentaram umas «fotos». Tendo Jaime afirmado: «Ainda bem que a D.Isabel não viu as fotografias porque podia desmaiar».

«Assunto encerrado»

Já com os alunos de regresso à Casa Pia, cada educador fez o seu relatório. O de Isabel, apenas sobre a rapariga, não faz referências a «fotografias» ou «nomes». Mas o outro, escrito com base nos depoimentos dos rapazes, sim. Referia uma «caixa de sapatos amarela» e o nome de Carlos Cruz como frequentador da casa de Ritto.

Apesar de ainda ter ido à polícia uma vez, admite que nunca mais se falou no assunto. «Tudo acalmou e, em reuniões, entendemos que não deviamos mais falar sobre o caso». Assim parece ter acontecido.

Confrontada com o outro relatório, disse «não saber de nada», mas recorda que, na época, alguém lhe respondeu que «o que estava ali era tudo o que os miúdos tinham dito». Sobre as fotos, pensou «que os jovens estavam a gozar».
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