Casa Pia: falta ouvir 34 pessoas

O julgamento do processo Casa Pia, o mais longo da Justiça portuguesa, retoma segunda-feira as sessões, adivinhando-se para breve o final deste caso, uma vez que faltam ouvir 22 testemunhas, três peritos e nove consultores técnicos, refere a Lusa.

Para o recomeço do julgamento no ano de 2008, estava marcada a audição da testemunha João Pedroso, irmão do antigo ministro socialista Paulo Pedroso (que chegou a ser arguido neste processo), mas foi adiada pela terceira vez consecutiva devido a afazeres pessoais, disse fonte do Tribunal do Monsanto, Lisboa, onde decorre actualmente o julgamento.

O advogado João Pedroso, que acompanhou a defesa do seu irmão até este ser ilibado pela juíza de instrução Ana Teixeira e Silva, teve audições agendadas para 10 e 20 de Dezembro, coincidindo esta última com a do ex-secretário-geral socialista Ferro Rodrigues.

Ferro Rodrigues, que teve Paulo Pedroso como seu secretário de Estado quando foi ministro do Trabalho e da Solidariedade e cujo nome foi também envolvido neste processo de pedofilia por duas das alegadas vítimas, reafirmou em tribunal a tese da «cabala» para explicar o seu envolvimento neste caso e disse só ter acreditado que o seu nome andava na baila depois de ter falado com o fiscalista Saldanha Sanches, marido da magistrada do Ministério Público Maria José Morgado.

O julgamento do processo Casa Pia, que se iniciou a 25 de Novembro de 2004, com sete arguidos e que já bateu todos os recordes de morosidade, conta com 1.340 despachos e 1.530 requerimentos apresentados e arrasta-se há 355 sessões, presididas pela juíza Ana Peres.

Faltam ainda ouvir 22 das mais de 950 testemunhas arroladas, bem como três peritos e nove consultores técnicos que, contudo, só serão ouvidos em tribunal após terminarem as últimas perícias pedidas às alegadas vítimas, constituídas como assistentes no processo.

Este megaprocesso, altamente mediatizado por contar entre os seus arguidos com o apresentador de televisão Carlos Cruz e o embaixador Jorge Ritto, contém 217 volumes, 504 apensos e 50.080 folhas, ao longo dos mais de três anos de julgamento, divididos entre três tribunais.

O processo contabilizou também 136 recursos e três incidentes de recusa de juiz e conta ainda com 25 requerimentos que ainda não foram despachados pelo colectivo de juízes.

O julgamento do processo Casa Pia, que teve entre as testemunhas figuras destacadas da sociedade portuguesa, tem sete arguidos: o ex-motorista casapiano Carlos Silvino da Silva (Bibi), que responde por mais de 600 crimes de abuso sexual de crianças da instituição, o ex-provedor adjunto Manuel Abrantes, Carlos Cruz, o médico João Ferreira Diniz, o advogado Hugo Marçal (que chegou a defender Bibi) e Gertrudes Nunes, dona da vivenda de Elvas onde alegadamente ocorreram abusos sexuais de menores.