Anorexia está nos genes - TVI

Anorexia está nos genes

Ana Carolina Reston (Foto cedida pela agência Lequipe)

Incidência da doença em familiares de anorécticos é seis vezes maior do que na população em geral. Cerca de um por cento dos estudantes são anorécticos. Bulimia é mais comum

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Os familiares de doentes com anorexia têm mais probabilidade de vir a sofrer da doença do que a população em geral. Segundo dados divulgados esta terça-feira por Isabel Brandão, especialista do núcleo de Comportamento Alimentar do Hospital de São João, do Porto, a incidência da doença na família de anorécticos é seis vezes maior do que na população em geral.

Esta maior propensão explica-se, por um lado, pelo facto de haver uma «vulnerabilidade genética» da anorexia nervosa e, por outro lado, com factores do dia-a-dia familiar, disse a psiquiatra. «O comportamento alimentar e a forma como a família encara o corpo são elementos que podem desencadear a doença», não apenas num, mas em vários elementos do agregado. Por isso, muitos dos tratamentos de anorexia incluem a terapia familiar.

Embora haja esta «vulnerabilidade genética», a anorexia «é sobretudo desencadeada por factores sociais», disse a especialista durante o Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental. «Hoje em dia há uma grande pressão para se ser magra», adiantou Isabel Brandão.

Em Portugal, entre 0,3 e 0,5 da população estudantil sofre de anorexia. A doença afecta sobretudo mulheres [há cerca de 9 mulheres por cada homem] e é mais comum na adolescência, se bem que «nos últimos anos têm surgido casos de raparigas cada vez mais jovens, algumas com apenas sete anos de idade, e também doentes entre os 30 e os 40 anos de idade».

Os principais sintomas são comer muito pouco, ter um índice de massa corporal abaixo de 17, distorção da imagem [apesar de estarem magros, continuam a achar-se gordos], medo de aumentar de peso e, no caso das mulheres, vários meses sem ter menstruação, embora este sintoma possa muitas vezes ser disfarçado nas doentes que tomam pílula.

A anorexia pode restritiva - os doentes comem muito pouco - ou purgativa - depois de comer vomitam ou tomam laxantes e diuréticos.

Isabel Brandão explicou que, «apesar de os doentes pensarem que têm o controlo do seu corpo, é a doença que domina as emoções e as competências sociais dos anorécticos».

Mais comum, mas menos mediática

Mais comum do que a anorexia é a bulimia, que afecta 2 a 3 por cento da população estudantil portuguesa. A doença caracteriza-se pelo caos alimentar. Os bulímicos compensam a grande quantidade de comida que comem, com o vómito, o uso de laxantes ou diuréticos e fazem, muitas vezes, grandes períodos de jejum.

Estes doentes procuraram tratamento com mais facilidade do que os anorécticos, que, na maioria das vezes, são levados ao médico pela família. Contudo, os bulímicos apresentam depois uma grande resistência ao tratamento, explicou António Roma Torres, especialista do núcleo de Comportamento Alimentar do Hospital de São João, do Porto.

Apesar de ter sintomas diferentes, em ambas as doenças o importante é detectar e tratar o mais rapidamente possível, já que muitas vezes estas perturbações do comportamento alimentar podem ter finais trágicos. Isabel Brandão explicou que, no caso da anorexia, «há situações em que a falta de alimento leva a que o corpo fique debilitado e muitas vezes ocorrem infecções generalizadas que levam à morte. Já no caso da bulimia, a morte também é um cenário, mas, geralmente, ocorre pela via do suicídio».
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