«Se calhar havia mais gente a bater na Gisberta» - TVI

«Se calhar havia mais gente a bater na Gisberta»

Gisberta

Arguido diz que não bateu e até tentou defender o transsexual

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O jovem das oficinas de São José que está a ser julgado no âmbito do «caso Gisberta» nega ter agredido o transsexual. Vítor Santos, que responde por três crimes de ofensa à integridade física qualificada e um crime de omissão de auxílio, admite ter ido com os colegas ao local onde Gisberta foi agredida, mas garante que não só não lhe bateu, como pediu aos amigos para pararem. «Dos 13, fui o único que não lhe bateu», disse.

«Fui lá quatro vezes», contou Vitor em tribunal. «Da primeira vez eles disseram que iam ver o travesti e eu fui porque tive curiosidade. Nunca tinha visto nenhum», adiantou o jovem, que explicou que só depois os amigos disseram que «iam bater» no transsexual.

Quando chegaram, Vitor viu que Gisberta mostrava sinais de ter sido agredida. «O N. perguntou-lhe quem lhe tinha batido no dia anterior e ela respondeu que foram uns miúdos», explicou o arguido. Depois, «alguém lhe atirou uma pedra à cabeça, ela ficou a sangrar e eles começaram a dar-lhe pontapés», contou o jovem.

«Eu não lhe bati e pedi para eles pararem. Alguns pararam, mas outros ainda começaram a gozar-me por não lhe bater», adiantou e negou que tenha pedido para lhe baixarem as calças «para ver se era homem ou mulher», como diz a acusação. «Até conversei com ela, perguntei de onde era, o que estava ali a fazer...», disse ainda.

Gisberta: «Batiam-lhe para ela falar»

No dia seguinte, o grupo voltou a juntar-se. «Disseram que queriam ver como ela estava», explicou Vitor, mas, quando questionado sobre por que motivo voltou a ir ter com o transsexual o jovem disse que foi por «estupidez. Eu ia atrás deles».

Quando o grupo chegou, «O N. voltou a perguntar-lhe quem a tinha agredido no dia anterior», disse Vitor, que adiantou que todas as vezes que lá foram, o amigo fazia a mesma questão. «Eu acho que se ela dissesse que foram eles que lhe bateram, eles ainda lhe davam mais porrada», afirmou, adiantando que Gisberta apresentava ferimentos.

Vitor conta que nesse dia os amigos voltaram a bater em Gisberta e a atirar-lhe pedras. «Vi bater e não fiz nada, se calhar porque estava com a cabeça quente. Estávamos em grupo e eles eram mais», diz Vitor, que disse mais tarde que tinha algum receio da reacção dos amigos caso pedisse ajuda e denunciasse a situação.

O jovem conta que das outras duas vezes em que foram «ver a Gi», não houve mais agressões. No último dia, no domingo, «chegamos lá e ela estava deitada com as calças para baixo. Chamamos e ela não respondia», disse, adiantando que um dos amigos tocou-lhe no braço com um pau, «para ver se estava viva, mas ela só gemia». O jovem explicou que no dia anterior quando saíram o transsexual estava deitado na sua «barraca» completamente vestido e por isso não compreende por que motivo do dia seguinte estava com as calças para baixo. «Se calhar foi outro grupo que lhe bateu», disse Vitor. «Alí perto há um bairro e às vezes encontrávamos lá as garrafas dos drogados».

Nesse dia, o jovem percebeu que o transsexual «estava mal», mas garante que não achou «que ia morrer».

Por que não pediu ajuda

«Não chamei uma ambulância porque podiam achar que eu estava a brincar e porque a ambulância não consegui chegar ali», disse Vitor quando pelo juiz sobre por que não pediu ajuda. «Também tinha medo que me pusessem um processo, ela podia dizer que fui eu quem lhe bateu», acrescentou. Disse também que foi o medo de um castigo que o levou a não denunciar a situação aos monitores da instituição onde vivia. Agora, o jovem diz que está arrependido de não ter pedido ajuda.

Vitor diz que não sabe por que os amigos agrediam «a Gi». «Contaram-me que ela tentou abusar de um deles, se calhar era por isso», afirmou.

Depois foram ouvidos por vídeo-conferência dois jovens que também estiveram nesses episódios de agressão. Do pouco que se recordam, afirmam que não viram Vitor bater.
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