Lisboa: duas horas de silêncio pela Birmânia - TVI

Lisboa: duas horas de silêncio pela Birmânia

Manifestação por Myanmar - Foto Hugo Beleza

Fotos: Cerca de 150 pessoas reuniram-se no Marquês de Pombal

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Depois de em várias capitais mundiais a repressão do regime de Myanmar (antiga Birmânia) sobre a sua própria população se ter traduzido em manifestações de protesto, Lisboa também se juntou à lista destas cidades. Cerca de uma centena e meia de pessoas participaram na vigília organizada pela União Budista Portuguesa e pela Amnistia Internacional (AI), que durou das 19:00 às 21:00.

A rotunda do Marquês de Pombal é o vértice central dos rumos lisboetas. E foi para lá que foram fluindo dezenas de pessoas, a partir do início da noite, reunindo-se junto do imponente pilar que sustêm a estátua de Sebastião José de Carvalho e Melo.

Inicialmente, havia quase só jornalistas, ladeados pelos carros de exteriores das televisões. Depois, com a noite a cair, as velas que a União Budista tinha pedido que se trouxessem, foram chegando. Muitos jovens e cartazes. Dois polícias discretamente ao fundo. E quase toda a gente sentada tranquilamente na escadaria da praça circular, com vista privilegiada para a Baixa. Uma amena viagem visual pela Avenida da Liberdade.

Abaixo assinado em aberto

«É um momento para despertar a comunidade internacional para o problema da opressão na Birmânia e enquanto budista fico contente que tenham sido os monges a dar o exemplo de que não vivem só para a contemplação, mas que passam à acção quando é necessário», disse Paulo Borges, presidente da União Budista de Portugal.

O líder explicou que a sua comunidade religiosa «tinha de fazer qualquer coisa» face à violenta forma como a Junta Militar de Myanmar reprimiu às manifestações lideradas pelos monges budistas. De acordo com diplomatas ocidentais o número de detenções eleva-se a milhares - 4 mil segundo os mais optimistas -, e o número de mortos poderá chegar aos 200, sem que haja muita precisão nestes dados, devido à dificuldade em obter informações fidedignas junto das autoridades birmanesas, que apresentam estas cifras com números bastante mais modestos.

Paulo Borges explicou ainda que a sua associação tem «subscrito cartas e protestos, nomeadamente da Amnistia Internacional», relativos ao caso de Myanmar e deu conta de uma recolha de assinaturas que já está a ser feita (brevemente também pela Internet em www.uniaobudista.pt) e tem como finalidade «enviar um abaixo assinado ao primeiro-ministro português e ao presidente da comissão europeia, Durão Barroso. Pedimos que eles movam todos os meios diplomáticos ao seu alcance para sensibilizar a comunidade internacional».

Situação que «chegou ao limite»

Victor Nogueira, presidente da AI-Portugal, também realçou a importância de sensibilizar para a opinião pública para «problemas como este». Na sua análise, a tensão na Birmânia não é mais do que um conjunto alargado de problemas políticos, sociais e económicos que «chegou ao limite». «A repressão foi desproporcionada. Mataram muitas pessoas, mas o número é desconhecido ainda», apontou, assinalando que apesar da AI não ter dados concretos, há indicação de que a situação seja muito mais trágica do que a admitida pela Junta Militar.

As imagens desta repressão geraram uma «comoção colectiva» a nível global. Contudo, disse estar algo céptico em relação a um efeito, pelo menos imediato, na resolução dos problemas da população birmanesa. Assinalou, porém, a necessidade da comunidade internacional continuar a exercer pressão para a abertura do regime.

Dificultar a «acção repressiva»

Na vigília este ainda Miguel Portas. O eurodeputado eleito pelo Bloco de Esquerda referiu a importância deste tipos de acções, que de alguma forma levam a que seja possível «manter uma elevada pressão externa sobre o regime da Birmânia, dificultando-lhe a acção repressiva».

O parlamentar europeu defendeu ainda que qualquer tipo de sanções sobre o regime deve ser feito de forma cautelosa, «de forma a não dificultar ainda mais a vida do povo birmanês», mas incidindo no regime de Rangun. «Devem ser extremamente selectivas», disse.
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