Há mulheres que acham «normal apanhar dos maridos» - TVI

Há mulheres que acham «normal apanhar dos maridos»

Violência doméstica

Especialista vai lançar um livro sobre abuso intrafamiliar

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A responsável da Delegação Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal, Teresa Magalhães, afirma que há muitas mulheres que continuam a achar «normal apanharem dos maridos», como se encara como sendo normal crianças apanharem dos pais.

«É incrível dizer isto, mas pode parecer quase inacreditável aos ouvidos de alguns, mas é um facto que no nosso país, no século XXI, existem mulheres jovens, até aqui na zona litoral, nas grandes cidades, que estão convencidas de que é normal e que têm de se submeter a esse tipo de comportamento», disse à Lusa.

Para esta professora na Universidade do Porto, «foi assim que viram os pais fazerem às mães, os vizinhos a fazer às vizinhas, e acham que é assim que se tratam as mulheres, que é assim a vida, a cruz do casamento».

«Este fenómeno é tão frequente, sobretudo a violência que acontece dentro das famílias, que se não formos vítimas conhecemos alguém que o é e estamos na possibilidade de a ajudar e foi nesse sentido, para melhor esclarecer a população sobre o que fazer perante estas situações, que escrevi estas linhas», acentuou, referindo-se ao livro «Violência e Abuso - Respostas simples para questões complexas», que vai ser lançado quinta-feira.

Na obra, debruça-se mais sobre o abuso intrafamiliar, por ser aquele que mais preocupa em Portugal, por ser muito prevalente e, por acontecer dentro de casa, ter pouca visibilidade.

«Não só porque não é visível objectivamente, porque é dentro das quatro paredes, mas porque as próprias vítimas tendem a oculta-lo. Quem está em causa não é um vulgar agressor ou um desconhecido que na rua nos aborda para nos roubar, nos agride e de que não temos dificuldade em fazer uma denúncia», referiu.

O agressor «é alguém que nos é muito querido e relativamente ao qual vamos tentar o mais possível protegê-lo e proteger-nos para conseguir de alguma forma manter aquele relacionamento. Além daquele vínculo de afectos, que são também dependências, existem muitas vezes dependências até económicas, de mulheres, de idosos, em relação ao marido, aos seus cuidadores, e nas crianças também», acentuou.

«As nossas famílias são espaço frequente de violência», afirmou, admitindo que o abuso sobre mulheres e crianças tem hoje outra visibilidade, mas há um que continua ainda muito oculto, sobre os idosos.

Para Teresa Magalhães, as vítimas, muitas vezes, ficam tão fragilizadas que são incapazes de denunciar e, por isso, «carecem da ajuda de todos».

«Não se pode cruzar os braços, fechar os olhos e dizer que entre marido e mulher ninguém meta a colher ou quem dá o pão dá a educação», declarou.

Na sua perspectiva, está também em causa um tipo de abuso com um «efeito de contágio» intergeracional, o que faz com que hoje, ao evitar-se um caso, estão a evitar-se muitos outros casos no futuro.
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