Tropas russas atacam aleatoriamente à medida que a Ucrânia aumenta a pressão na linha da frente - TVI

Tropas russas atacam aleatoriamente à medida que a Ucrânia aumenta a pressão na linha da frente

  • CNN
  • Nick Paton Walsh, Natalie Gallón, Kosta Gak e Peter Rudden
  • 10 mai 2023, 08:00

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Nesta aldeia deserta e destruída, a notícia de que a Rússia está a retirar-se das cidades ocupadas ao longo da frente sul já chega tarde.

Mala Tokmachka, situada a pouco mais de 2 quilómetros do território russo ocupado na região de Zaporizhzhia, foi maltratada pelos bombardeamentos, com a praça central esburacada e a fachada da escola arrancada. Os estilhaços misturam-se com as pinhas caídas.

Raisa, uma mulher local que passa por alguns soldados ucranianos na sua bicicleta, disse que as explosões tinham aumentado recentemente e que tinha ouvido disparos de armas na autoestrada próxima. "Não há saída para nós", lamentou, referindo-se aos 200 civis que por ali permanecem. "Não temos água, gás ou eletricidade há mais de um ano."

A apenas 15 km da estrada fica Polohy, uma cidade que os ocupantes russos disseram na sexta-feira que iriam abandonar - processo que fontes locais disseram ter começado no fim de semana, embora alguns soldados russos, aparentemente, permaneçam no local.

Habitantes locais junto a uma casa destruída, na sequência de um bombardeamento russo em Komyshevakha, região de Zaporizhzhia, Ucrânia, na segunda-feira, 8 de maio. Andriy Andriyenko/AP

 

Habitante local verifica o telemóvel num abrigo gerido por voluntários na cidade de Orikhiv, na região de Zaporizhzhia, em 7 de maio. Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images

A cidade é o centro da contraofensiva de primavera da Ucrânia. Embora Kiev tenha afirmado que não anunciará o seu início para causar o máximo de surpresa, declarações recentes de autoridades russas nas zonas ocupadas indicam que, pelo menos, a fase inicial está provavelmente em curso.

Polohy é uma das mais de uma dúzia de povoações da linha da frente que as forças de ocupação anunciaram na sexta-feira que iriam ser evacuadas. Yuri Balitsky, responsável russo, disse que não podiam arriscar a segurança das pessoas e iriam ajudá-las com "viagens organizadas, pagamentos de montantes fixos, alojamento e refeições". Acrescentou que os menores seriam "tratados e descansariam em campos de crianças", discurso que em tudo se assemelha ao que a Ucrânia apelidou de deportação forçada e no qual o Tribunal Penal Internacional baseou uma acusação de crimes de guerra contra o presidente russo Vladimir Putin.

As autoridades ucranianas dizem que as evacuações estão a ser usadas para dar cobertura à partida das tropas russas e alegam que os civis estão a ser enviados para a cidade costeira de Berdyansk e os soldados russos para a cidade profundamente destruída de Mariupol.

Ainda não é claro qual o impacto que estas evacuações - que no domingo as autoridades russas totalizaram em cerca de 1.600 pessoas - terão sobre a capacidade de Moscovo para manter as cidades da linha da frente. Mas é um sinal de possível fraqueza e, durante as anteriores ofensivas ucranianas, as posições russas colapsaram subitamente, mesmo quando os seus porta-vozes articulavam a defesa. Na melhor das hipóteses, estas partidas em massa são o reconhecimento por parte das forças russas de que a luta que têm pela frente será provavelmente intensa.

As pessoas retiradas também estão a ser deslocadas para o litoral - um reflexo do terreno que vai ser disputado. De acordo com imagens de satélite, a Rússia construiu uma linha substancial de defesas ao longo da sua frente sul, na região de Zaporizhzhia.

Abaixo desta linha de trincheiras e betão, há relatos de algumas defesas em curso, mas não com uma profundidade que sugira que a Rússia pode facilmente dar-se ao luxo de perder esta linha da frente. Quando a bem preparada ofensiva ucraniana tiver ultrapassado este primeiro obstáculo, Moscovo corre o risco de a deslocação para a costa ser muito mais fácil. Isso poderá ser desastroso para a ocupação russa e para a posição estratégica de Putin no corredor terrestre que atravessa Zaporizhzhia e liga a península da Crimeia ao resto da Ucrânia ocupada e ao continente russo.

A raiva da Rússia

Na cidade de Orikihv, controlada pelos ucranianos, um dos últimos grandes centros populacionais antes desta linha da frente, a perspetiva de as forças russas serem empurradas de forma decisiva não chega com a rapidez desejada. Um duelo constante de artilharia ocupa o horizonte, juntamente com nuvens intermitentes dos enormes, e muitas vezes imprecisos, ataques aéreos russos.

Na quinta-feira, quatro ataques destruíram duas casas de civis, mas aparentemente não atingiram qualquer construção que pudesse ser considerada um alvo. No domingo de manhã, uma equipa da CNN testemunhou um caça a sobrevoar a cidade e a lançar dois mísseis - um deles um Kh31-P de meio milhão de dólares, segundo as autoridades ucranianas - que caíram a 700 metros de distância. O míssil parece ter falhado qualquer alvo potencial, causando uma cratera de 3 metros de profundidade num terreno vazio no centro da cidade.

Orikhiv é constantemente fustigada pela fúria russa à medida que a pressão militar ucraniana aumenta. A equipa de salvamento da cidade contou que já não existe qualquer padrão nos bombardeamentos, que parecem ocorrer em alturas e locais aleatórios. Dmytro Haydar, um dos socorristas, descreveu o delicado equilíbrio que a sua equipa tem de encontrar entre responder rapidamente aos ataques e ser apanhada pelos ataques regulares de "duplo toque" que os caças russos lançam frequentemente para atingir socorristas e sobreviventes. "Deixam rasto no céu", disse sobre um ataque aéreo. "Tivemos de ficar perto da cave porque eles lançaram bombas inteligentes. Não há uma hora do dia ou um local específico para os ataques." Haydar apontou para o som recente de disparos de artilharia e considerou que "não é necessariamente ucraniano". "Pode ser da cidade russa de Nesterianka. A linha da frente fica a 3 quilómetros de distância, e depois estão eles."

Um homem e uma criança olham para o hotel Sunrise Park, em Zaporizhzhia, destruído após o bombardeamento russo de 5 de maio. Andriy Andriyenko/SOPA Images/Getty Images

O chefe da equipa, Andrew Grygorenko, contou que ficou retido no início da guerra em Polohy, ocupada pelos russos, onde vivia e trabalhava como socorrista. Os russos obrigaram-no e aos seus homens a continuar o seu trabalho. Grygorenko disse que os seus homens, um a um, conseguiram escapar. Evitou o controlo apertado do seu paradeiro quando, um dia, um responsável local de ocupação não compareceu no trabalho e ele conseguiu partir num miniautocarro com civis.

O facto de as posições russas serem regularmente atingidas pelas forças ucranianas desencadeou uma caça ao homem na cidade, à procura de um informador. "Estavam à procura de observadores e de pessoas desleais ao novo poder", explicou. "Há muitas pessoas desaparecidas e muitos mortos. Nem sequer temos noção da dimensão disto. Depois da libertação da nossa cidade, vamos encontrar muitos mais."

*Olga Voitovych contribuiu para este artigo

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