Festa é festa

Jorge Festas

Manuel Melo

Trintão. Ainda vive com a sua mãe, Adelaide, e já não tem pai. É o cantor principal do rancho, já que é acólito e canta no coro da igreja. É a melhor voz da aldeia, o veterano do clube de hóquei em patins da terra e um gabarola por isso mesmo, embora passe a vida no banco de suplentes. Sente-se uma estrela e superior aos outros todos, embora a realidade lhe mostre que não. Nunca foi muito de trabalhar. Achava que o hóquei ia acabar por ser suficiente para lhe mudar a vida, mas tal nunca chegou a acontecer. Mas, mesmo veterano, Jorge ainda mantém essa esperança. Na vida afetiva, Jorge gaba-se de ter várias namoradas fora da aldeia, mas nunca ninguém lhe conheceu nenhuma. É um rapaz que vive daquilo que diz, mais do que daquilo que faz. Na verdade, Jorge esconde as condições em que vive, desde que a sua mãe, Adelaide, perdeu o emprego na fábrica, em tempos de pandemia. Trata-se de um caso de pobreza escondida, chegando ao ponto de passar fome, mas que Jorge esforça-se por não transparecer. Pelo contrário, começa a fazer biscates para ajudar, mas revela-se insuficiente. Jorge é um rapaz de dupla personalidade: uma dentro de casa e outra porta fora. Se na rua, é um pequeno “pavão”, em casa é um filho de uma meiguice extrema, preocupando-se profundamente com a saúde física e psicológica da sua mãe. Verá na festa, com transmissão na TVI, o grande evento para mudar a sua vida de vez.