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A dor repetida das Caxinas

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Luto voltou a cobrir Vila do Conde, com um mar de gente a acompanhar o funeral de três dos náufragos da tragédia da Nazaré. Após paralisação, barcos vão regressar ao mar

O luto cobriu o lugar das Caxinas, em Vila do Conde, inundado por um mar de gente que acorreu à Igreja do Nosso Senhor dos Navegantes para se despedir dos três pescadores encontrados sem vida depois do naufrágio do barco «Luz do Sameiro». Um dia de dor partilhado por milhares de pessoas, estranhamente habituadas às amarguras provocadas pelo mar.

A «Igreja do Barco», como também é conhecida devido à sua forma arquitectónica, foi pequena para receber tanta gente. Muitos foram os que ficaram cá fora, partilhando o sentimento de perda devido ao falecimento dos companheiros José Viana da Silva (57 anos), Ricardo Marques (48) e Fernando Cartucho (42), depois de os terem acompanhado, em cortejo fúnebre, desde a Capela da Nossa Senhora da Boa Morte.

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«O luto é duro, mas pelo menos estas famílias podem fazer o funeral dos seus entes queridos, algo que os restantes estão impossibilitados simplesmente porque os corpos ainda não foram descobertos», desabafou ao PortugalDiário o mestre José Festas, lamentando o desaparecimento do amigo de infância, e também mestre de pescas, Inácio Maio, para além de João Cartucho e José Ferreira. O mar da Nazaré roubou-lhes a vida e teima em não devolvê-los ao mundo terreno.

Ao final da manhã, no Mercado Municipal, o peixe era pouco, mas com o final do luto os barcos regressam à faina já durante a noite desta quarta-feira. «As bancas estão vazias e se temos aqui algum pescado do dia é porque as pequenas embarcações tiveram mesmo de largar as amarras. Vivemos disto...», contou Dona Deolinda, sabendo de experiência própria que ser casada com o homem do leme se pode tornar num destino de infelicidade. Também ela veste de preto, como tantas mulheres das Caxinas.

Comércio fechado

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«Olá, como está? Então cá estamos nós outra vez». A frase foi repetida vezes sem conta, confirmando a dor constante desta gente. Uma revolta contida, como quem sabe que o mar vai continuar a dar lições. Nas Caxinas o comércio fechou portas entre as 15 e as 18h, simplesmente porque os que partiram percorreram tantas vezes aquelas ruas e todos os conheciam.

Milhares de pessoas, em grande maioria com ligações ao mar, acompanharam o cortejo até à Igreja e depois dividiram-se pelos três cemitérios (Caxinas, Vila do Conde e Póvoa de Varzim). Nem os homens, habituados à dureza da vida, conseguiram conter as lágrimas, enquanto o presidente da Câmara, Mário de Almeida, fazia questão em estar sempre presente, manifestando pesar e solidariedade.

Os próximos dias vão ser de regresso à normalidade possível, com os barcos e os pescadores no mar. Mas a luta continua e o luto pode voltar, porque ainda falta resgatar três corpos. O único sobrevivente do naufrágio, o ucraniano Vasyl Huryn, vai também tentando apagar do esquecimento as horas de sofrimento em que viu partir os seus colegas, um de cada vez, enquanto a ajuda de terra demorava a chegar. Chegou, mas demasiado tarde.

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