«Imóveis penhorados já têm expressão na carteira dos bancos» - TVI

«Imóveis penhorados já têm expressão na carteira dos bancos»

Luso-roux

As penhoras de imóveis, e o subsequente leilão dos mesmos, são cada vez mais frequentes em Portugal. Em entrevista à «Agência Financeira», a directora de vendas da Luso-Roux, Ana Luísa Ferro, explica que estes imóveis têm cada vez mais expressão na carteira dos bancos e fala deste fenómeno social recente, que afecta sobretudo as periferias das grandes cidades.

Existem mediadoras a quem estas casas também são entregues para venda e só chegam a leilão se não se venderem antes, não é?

Admito que isso possa acontecer. Estes imóveis já começam a ter alguma expressão nas carteiras dos bancos e eles recorrem a todas as formas possíveis de os vender. Não temos exclusividade com nenhuma instituição e estamos com outros concorrentes nesta área, embora sejamos os únicos a realizar leilões de imóveis, com este modelo.

Têm ideia de quantos imóveis existem nesta situação? Têm um peso muito significativo nas carteiras dos bancos com quem trabalham?

Não sabemos ao certo, calculo que sejam milhares. O peso que têm nas carteiras das instituições é variável, até porque, para algumas instituições, é a prioridade resolver rapidamente estas situações, para outras nem tanto. Tudo depende da configuração que queiram dar às sus carteiras, aos seus balanços.

É mais frequente a recuperação amigável dos imóveis ou a judicial?

Há instituições que ainda adoptam a solução pela via judicial, mas há muitas outras que já estão a optar pela via da dação em pagamento, muito mais rápida.

Existem zonas em que as casas nestas circunstâncias são mais frequentes?

Sim, Na zona de Lisboa, na margem Norte, os concelhos mais castigados são Sintra, Amadora, Loures, Vila Franca de Xira. Casas nos concelhos de Cascais, Oeiras e Lisboa são mais raras e quando aparecem, são em regra muito facilmente transaccionadas são ¿as estrelas dos leilões¿, têm muita saída, pois há ainda muita liquidez nestas zonas.

E na margem Sul?

Na margem sul salientamos os concelhos de Almada, Seixal, Sesimbra, Palmela, Moita e Setúbal. Em Almada é mais raro aparecerem casas, e por isso é relativamente fácil conseguir a transacção, porque a liquidez também é grande. Setúbal e Moita são os concelhos onde surgem mais imóveis para venda. São zonas muito castigados pelo desemprego, pela imigração crescente, por uma malha social complexa. Acresce que a generalização e maior facilidade do acesso ao crédito, fez com que este tenha disparado, sobrecarregou as famílias com um endividamento crescente e por vezes insustentável que acaba por fazer aumentar as situações de mal parado. Setúbal é das zonas mais castigadas neste sentido, o que se reflecte no volume muito grande de casas que nós recebemos. E a Norte, na zona do grande Porto o panorama é análogo.

Pode dizer-se que são sobretudo as zonas da periferia das grandes cidades?

Verificou-se um grande crescimento das periferias com a criação de zonas de construção mais acessível, para onde as pessoas se movimentaram. E como são sobretudo pessoas de segmentos mais baixos, consequentemente com condições laborais mais precárias, é onde se reflecte mais a incidência de incumprimento do crédito.

Pode-se falar de um fenómeno social, além de económico?

Sim. Eu diria que há aqui uma enorme transformação do nosso quadro social, que faz com que continue a haver uma grande necessidade de casas. O crescimento dos divórcios conduziu à proliferação de famílias monoparentais com necessidades diferentes. É uma espécie de uma onda, as pessoas trocam de um T2 para um T3 ou de um T2 para um T1 pelos mais diversos motivos. Nos casos de incumprimento, admito que exista um downgrade, as pessoas entregam as casas que já não conseguem pagar e procuram outras mais pequenas, mais baratas, cujo encargo seja suportável. Da mesma forma que sucede o casal que tem dois filhos e vai ter o terceiro passar de um T2 para o T3, também acontece o contrário, em que aquele que deixou de conseguir pagar um T2 e vai passar para um T1.

Como vê o momento que o mercado da habitação está a atravessar?

Há muita oferta, existem muitas casas à venda. É questionável que a inversão desta tendência do sector da construção de habitação se dê tão depressa como gostaríamos.

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