Mugabe diz que é um democrata - TVI

Mugabe diz que é um democrata

  • Portugal Diário
  • Paula Oliveira
  • 9 dez 2007, 15:37
Mugabe na cimeira UE/África (LUSA)

Depois de ouvir calado vários discursos de líderes europeus contra a violação dos direitos humanos no seu país, o presidente do Zimbabué resolveu defender-se e chamou arrogante a Angela Merkel. Onde pára Mugabe? Mugabe paga a manifestantes

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Robert Mugabe afirmou este domingo que existe uma «grande incompreensão» da UE em relação ao Zimbabué, e acusou a chanceler alemã de ser «arrogante», referindo-se às críticas de Angela Merkel nesta cimeira, ao sublinhar que o que se passa no Zimbabué «faz mal à imagem de uma nova África».

«Nós não temos uma democracia há 100 anos. Tivemos de lutar por ela no nosso país. As críticas são arrogantes e provêm do bando dos quatro», afirmou Mugabe, em alusão às intervenções não só da chanceler alemã, como também dos líderes políticos da Suécia, Dinamarca e Holanda

Pouco antes, o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e Segurança Comum, Javier Solana, confirmava que as críticas de Merkel foram feitas em nome de «todos os estados» da UE, uma posição também sublinhada por Durão Barroso na conferência de encerramento dos trabalhos: «O que a senhora Merkel disse não é apenas a posição dela, é a posição da União Europeia».

Há democracia no Zimbabué

As palavras de Robert Mugabe foram proferidas na sessão plenária deste domingo, o último dia da cimeira, e onde o desconforto em relação à falta de democracia e direitos no Zimbabué não foi ultrapassado, contrariando, assim, a tendência oficial dominante de que esta foi uma questão «marginal» nos trabalhos deste encontro, conforme sublinhou sábado o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado.

A mensagem que se retira da conferência de imprensa conjunta dos presidentes da União Europeia, União Africana, Comissão Europeia e Comissão Africana é que o problema do não cumprimento dos Direitos Humanos por parte de alguns países africanos tem novos instrumentos: o diálogo e a palavra dada. «Vivemos num país muito transparente e não há nada que possamos esconder. A garantia [de cumprimento dos Direitos Humanos] é dada com base na boa vontade», referiu o presidente da presidente da Comissão da União Africana (UA) e do Ghana, John Kufuor.

Mas, as palavras de Mugabe sobre democracia indicam-nos o caminho contrário. «Há uma grande incompreensão em relação a África e ao Zimbabué. Fala-se aqui na Europa em direitos fundamentais e democracia, mas esquece-se que houve gente do meu povo que morreu lutando pela democracia e pela independência nacional», declarou, citado pela agência Lusa. E para quem, neste momento, no Zimbabué há um regime de «um eleitor e um voto».

Numa cimeira onde nem na sala do plenário deixou de estar constantemente rodeado por seguranças, o líder político africano aproveitou para pedir apoio económico. «O Zimbabué está a sofrer com adversidades económicas e precisa da ajuda comunidade internacional», adiantou.

Em relação ao diferendo com o Reino Unido, que levou à ausência do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, nesta cimeira, Mugabe amenizou as hostes: «É um problema sobre a propriedade da terra que está a ser resolvido».

Europa diz que não há

Javier Solana afirmou na sessão plenária que os «27» estão prontos a normalizar as suas relações com o Zimbabué desde que o regime de Mugabe dê sinais de começar a respeitar os direitos fundamentais.

O problema do Zimbabué é uma preocupação europeia, mas são os países africanos que estão a tentar resolver o problema, apesar de também se saber este domingo que a questão do Zimbabué não figurava na ordem de trabalhos da cimeira, conforme referiru o secretário-geral da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).



«O Zimbabué não fazia parte da ordem de trabalhos para esta cimeira», declarou à imprensa Tomaz Salomão. E explicou: «a nossa posição é que nos cabe a nós tratar deste assunto. O presidente (sul-africano) Thabo Mbeki está a ocupar-se desta questão».

Foi por esse motivo que quase estalou o verniz na sessão plenária. O presidente Mbeki, encarregado de uma missão de mediação entre Mugabe e a oposição zimbabueana tomou a defesa do presidente, interpelando a chanceler alemã: «De que é que está a falar? As coisas estão a avançar». Estarão?
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