«Todos os jornalistas sentiram a enorme agressividade de Sócrates» - TVI

«Todos os jornalistas sentiram a enorme agressividade de Sócrates»

Jornalista da TVI revela que membros do PS lhe contaram que o Governo queria Manuela Moura Guedes fora do ecrã já em 2005. Socialistas querem levantar o sigilo para descobrir quem foi

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O jornalista da TVI Carlos Enes, que fazia parte da equipa de Manuela Moura Guedes no Jornal Nacional de Sexta, afirmou, esta terça-feira, que «todos os jornalistas sentiram a enorme agressividade do primeiro-ministro» antes da suspensão deste jornal televisivo.

«Como jornalista, notei um fenómeno crescente de uma violência grande por parte do PS e em especial do primeiro-ministro para com o jornal. Creio que foi um facto público. Viu-se no congresso do PS, numa entrevista [de Sócrates] à RTP. Não tenho memória de isto ter acontecido com outro primeiro-ministro em relação a nenhum outro órgão de comunicação social», disse na comissão de inquérito.



Para o jornalista, José Sócrates «fez claramente uma pressão pública, uma campanha pública, um ataque claro ao Jornal Nacional de Sexta».

«É difícil não achar que um dos objectivos principais do Governo fosse de facto acabar ou mudar o Jornal Nacional de Sexta. Sentíamos que o fim do jornal era um objectivo claro do primeiro-ministro», acrescentou.

No entanto, assegurou: «Não sou pressionado e continuei a fazer as peças como sempre fiz.»

Questionado pela deputada do CDS-PP Cecília Meireles sobre um jantar que terá tido com «dois deputados PS e um assessor Governo» em 2005, Carlos Enes confirmou o encontro.

«Foi um jantar de amigos. Uma dessas pessoas estava preocupada comigo. Foi-me relatado que, como contrapartida para o beneplácido do Governo à entrada de um grupo estrangeiro na Media Capital, Manuela Moura Guedes poderia ser afastada do ecrã. Era um plano simples: com o afastamento de Manuela Moura Guedes, seguramente José Eduardo Moniz se auto-afastaria também, resolvendo um segundo problema», revelou.

Enes adiantou ainda que, nesse jantar, lhe contaram que estavam a decorrer «reuniões entre responsáveis da Prisa e o primeiro-ministro e membros do seu Gabinete para acertar que o Governo não se oporia ao negócio».

Perante tais revelações, o deputado do PS Osvaldo Castro interrompeu Carlos Enes, levando Pacheco Pereira a acusar os socialistas de «pressão sobre quem está a falar».

«É relevante que o jornalista seja instado a dizer quem lhe disse isso para que seja chamado a vir aqui. Considero que estamos face a uma desobediência. Deve ser levantado o sigilo em que, como jornalista, se esconde», acusou Ricardo Rodrigues (PS), que mais tarde garantiu que vai apresentar um requerimento ao Tribunal da Relação de Lisboa em 48 horas.

O jornalista da TVI assegurou que «nunca» revelará a identidade das pessoas que jantaram consigo e continuou, sublinhando que a «prevenção» que lhe fizeram levou a que Manuela Moura Guedes se auto-afastasse da apresentação do Jornal Nacional em Dezembro de 2005.

«A explicação oficial é um clássico: razões pessoais. A razão verdadeira foi facilitar a gestão que José Eduardo Moniz poderia ter com a nova administração. Ela, afastando-se, resolvia o problema e facilitava o relacionamento entre o director-geral e a nova administração», afirmou.
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