«Não tenho medo nenhum de si» - TVI

«Não tenho medo nenhum de si»

Debate parlamentar - Foto de Mário Cruz para Lusa

Declarações do ministro de Agricultura motivam acesa troca de palavras no Parlamento. Portas diz que perdeu o «respeito» pelo primeiro-ministro. «Pensei que me ia pôr um processo», ironizou Sócrates PM anuncia novas vias rodoviárias

Relacionados
Era para ser apenas uma «questão prévia», mas o diferendo entre Paulo Portas e o ministro da Agricultura acabou por dominar a troca de palavras entre o líder do CDS-PP e o primeiro-ministro no debate quinzenal, que se realizou esta sexta-feira no Parlamento.

Portas questionou Sócrates sobre «as insinuações» de Jaime Silva, que o levaram a mover um processo contra o ministro. O chefe de Governo disse que o deputado é que começou com a polémica, acusando o Executivo de ser caloteiro.

«No domingo passado, em Beja, considerei que o Ministério de Agricultura era censurável por praticar uma política de calote, quando se atrasava nos pagamos aos agricultores, e isso é, quanto às medidas agro-ambientais e às indemnizações compensatórias, fácil de comprovar», recordou Portas, adiantando: «Fiz uma crítica política que merecia uma resposta concreta».

O líder centrista disse que em vez dessa resposta «o senhor ministro da Agricultura fez uma crítica baseado em insinuações pessoais, que são tão falsas como detestáveis em política».

Jaime Silva «não está na taberna»

«Insinuou que dois antigos ministros do CDS tinham defraudado a lei no [caso] Portucale e que eu próprio tinha defraudado o contribuinte», sublinhou. «De caminho, mandou-me branquear, verbo nada inocente, qualquer coisa», continuou Portas, indicando que Jaime Silva «não é uma pessoa qualquer, é um ministro da República Portuguesa, que não está na taberna, está nas instituições»

Recordando que Nobre Guedes foi «ilibado pela Procuradoria-Geral da República», que «Telmo Correio não foi senão testemunha» e que ele próprio não foi interpelado por «nenhuma autoridade judicial» em três anos, questionou Sócrates: «Cauciona o uso de insinuações pessoais no discurso político? Subscreve as insinuações feitas pelo ministro da agricultura?».

«Neste Governo não há caloteiros»

Depois de ouvir o discurso de Paulo Portas, José Sócrates respondeu, atacando o líder do PP: «Não senhor deputado, não cauciono, a começar pelas suas».

E explicou a razão pela qual recusou a acusação de falta de pagamento aos agricultores: «As regras comunitárias obrigam os estados nacionais a pagar aos agricultores ao dia 30 de Junho de 2008. O Governo já pagou aos agricultores mais de 80 por cento dessas ajudas, e comprometeu-se, de acordo com as suas possibilidades, a pagar aos agricultores no mês de Março. Não senhor deputado, neste Governo não há caloteiros».

E, sem deixar a bola cair, passou à defesa do seu ministro. «E conversa de taberna, desculpe, mas costuma ser utilizada pelo senhor deputado». O primeiro-ministro lamentou que Portas «use e abuse de palavras que têm como objectivo abrir telejornais, mas que ofendem». Escusou-se a recordá-las, com uma justificação. «Não sou daqueles que me faço de vítima e venho aqui expor-me em sofrimento como se tivesse sido atacado. Eu nunca faço isso»

«Lamento este incidente, se quer saber. Mas ele começou com uma acusação do senhor deputado a um ministro do Governo das República de que é caloteiro. O seu dever é começar por pedir desculpa ao Governo», frisou.

Ninguém tem medo de ninguém

Portas, por seu lado, insistiu que o Governo se tinha comprometido em pagar aos agricultores até ao final de 2007 e que as informações sobre estes pagamentos foram alteradas no site do Ministério da Agricultura.

E voltou a atacar. «O senhor usa o medo como instrumento político, o senhor quer que as pessoas tenham medo de si. Fique sabendo que não tenho medo nenhum de si. Quem recorre à brigada da calúnia é responsável pela crispação política em Portugal. O senhor zanga-se com toda a gente, um dia toda a gente acaba zangada consigo».

«Eu, o respeito que tinha por si, perdi-o», assinalou.

Irónico, Sócrates atirou: «Pensei que ia anunciar que me ia por um processo». «Não quero que tenha medo de mim, mas eu também não tenho medo do senhor deputado», concluiu.
Continue a ler esta notícia

Relacionados