Apito: «Até comentámos se seria ouro verdadeiro» - TVI

Apito: «Até comentámos se seria ouro verdadeiro»

Pinto de Sousa à entrada do Tribunal de Gondomar (João Abreu Miranda/LUSA)

Árbitro diz que recebeu chamada de Pinto de Sousa antes do jogo

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Paulo Silva, árbitro do «Fafe/Gondomar», admitiu esta manhã em tribunal ter recebido uma chamada do então presidente do Conselho de arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Pinto de Sousa, na véspera do jogo, na época 2003/04.

«Paulinho sabe onde estou? Estou ao lado do seu presidente da distrital do Algarve. Bom jogo para amanhã», ter-lhe-á dito Pinto de Sousa. Apesar de tal nunca ter acontecido antes, a testemunha não estranhou a chamada e adiantou, sem que lhe tivessem perguntado, que tal telefonema «em tempo algum foi para além de desejar boa sorte para o jogo. Mais nada». Sentiu-se pressionado? «Não, de maneira nenhuma».

No referido jogo, os árbitros receberam ofertas de ambas as equipas. Quando chegaram ao balneário, encontraram «três sacos de plástico com dois pares de calças de ganga para cada um. «Ficámos a saber que eram do Fafe».

Já no final da partida «é que (o Gondomar) nos entregou uma lembrança». O que era? «Um fio em ouro presumivelmente».

«Nenhuma das ofertas influenciou o resultado do jogo». «Não achou que era mais do que uma lembrança?», quis saber o procurador. «É uma prática corrente sermos ofertados com pequenas lembranças», referiu. Antes que lhe perguntassem, atirou: «Não teve influência, até porque a oferta foi posterior». O árbitro esclareceu até que, no final do jogo, ambas as equipas elogiaram a arbitragem.

«Até comentámos se seria ouro verdadeiro»

Filipe Pereira, árbitro assistente no mesmo jogo, recorda-se de ter encontrado à entrada no balneário «garrafinhas de vinho e calças» ofertadas pelo Fafe. Na sua versão, o Gondomar entregou as ofertas juntamente com os boletins do jogo, isto «antes do início do jogo», não obstante as caixas apenas terem sido abertas no carro, durante a viagem de regresso ao Algarve.

«Até comentámos se seria ouro verdadeiro». Para mim foi uma lembrança como outra qualquer», recordou a testemunha.

Na viagem de regresso, o assistente recorda-se de Paulo Silva ter ligado a Pinto de Sousa. «Não é muito normal, apesar de acontecer».

Sobre as ofertas aos árbitros, a testemunha explicou que «em 90 por cento dos jogos, oferecem coisas da região».

O meu único interesse é sair daqui o mais rapidamente possível»

O árbitro auxiliar Vítor Andrade arrancou uma forte gargalhada da sala, quando esta manhã, questionado pelo juiz se tinha algum interesse na causa [uma formalidade, a par do juramento, realizada antes de o depoimento começar] ter referido «O meu único interesse é sair daqui o mais rapidamente possível». O juiz Carneiro da Silva sorriu e ripostou: «O meu também, acredite».

Filipe Pereira recorda-se de o Gondomar ter referido «está aqui um presente do patrocinador». «Era uma caixa muito simples, não parecia nada de muito valor».

«Só reparámos que eram fios. Se for ouro, estou disposto a devolver», atirou ainda a testemunha, esclarecendo desconhecer «o real valor».

«Foi a primeira vez que recebi um fio», acrescentou o árbitro, adiantando, não ter ficado surpreendido porque «o que se dizia é que Gondomar, como terra de ouro, oferecia ouro».

Questionado sobre o valor das ofertas, o árbitro respondeu: «Sei de colegas que receberam relógios. O Leça dava sempre relógios, um relogiozito com o símbolo do clube». «Mas não eram relógios suíços?», inquiriu o procurador. «Claro que não». Questionado pela defesa de Pinto de Sousa, sobre a personalidade deste arguido, a testemunha admitiu que o ex-presidente do conselho de arbitragem da Federação era muito atencioso com os árbitros, «Sempre que tiver algum problema, ligue-me», dizia Pinto de Sousa.

Também esta manhã, a testemunha Rangel Fernandes, assistente no Gondomar/Bragança, reiterou as declarações do seu colega António Silva, que ontem negou ter jantado com o dirigente do Gondomar, após o jogo.

O julgamento prossegue da parte da tarde com a audição de mais seis testemunhas, entre elas, o árbitro Rui Mendes, que espoletou o caso «Apito Dourado».
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