Incêndios: Governo acusado de estar «ao serviço das celuloses» - TVI

Incêndios: Governo acusado de estar «ao serviço das celuloses»

Incêndio em Viana do Castelo

Confederação Nacional da Agricultura condena proposta do ministro da Agricultura dizendo que se trata de «tentativa de desresponsabilização»

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A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) condenou esta sexta-feira a proposta do ministro da Agricultura de expropriação de terrenos abandonados, acusando-o de «tentativa de desresponsabilização» e de arriscar estar «ao serviço dos interesses das celuloses», noticia a Lusa.

«São declarações de uma extrema violência e uma tentativa de desresponsabilização das políticas agrícolas e florestais aplicadas desde há bastantes anos», afirmou à agência Lusa um dirigente nacional da CNA.

João Dinis reagia assim às afirmações feitas quarta-feira pelo ministro António Serrano, que admitiu que o Estado poderá vir a tomar conta das propriedades que estejam ao abandono para evitar os incêndios.

Segundo João Dinis, «a razão principal que determina a extensão e a violência dos incêndios florestais é a ruína da agricultura familiar e o êxodo das populações rurais, que não estão na primeira linha do combate devido às más políticas agrícolas e florestais».

Salientando que «o Governo sistematicamente diz que não tem vocação para ser gestor das florestas», o dirigente questiona «para que é que vai, então, nacionalizar as florestas».

«Só se for para, depois de as expropriarem, as entregarem às grandes empresas e às celuloses, e então o Estado está, através do Governo, a correr o risco de se transformar num instrumento ao serviço dos interesses das grandes empresas da área florestal e das celuloses em particular, que por sua vez têm pesadas culpas nesta situação», respondeu.

De acordo com a CNA, «na história recente do país, nunca como nos últimos cinco anos em que José Sócrates é primeiro-ministro houve um período com tão pouco investimento na floresta, quer de projectos privados, quer públicos».

Recuando aos últimos dois anos, em que «devido às condições climatéricas» não houve incêndios florestais «extensos e violentos», João Dinis criticou que o ministério da Agricultura e o Governo tenham sido «lestos em vir vangloriar-se das medidas que tinham tomado».

«E agora que houve condições climáticas propícias aos incêndios, o Governo é ainda mais lesto a culpar os proprietários», lamentou.

Para a CNA, em causa está também «a questão da prevenção dos incêndios e do correcto ordenamento florestal», que «continuam a ser descuradas».

«Se se tem gasto fortunas nos meios de combate, na mesma proporção se tem descurado a prevenção e o ordenamento florestais», afirmou João Dinis, sustentando que «não há uma estratégia nacional eficaz e esse é o grande problema».

«A que preço está a madeira na produção? Está completamente desvalorizada, como é possível fazer gestão activa da floresta? Onde é que está o cadastro florestal prometido e reprometido? Nem sequer nos concelhos piloto está ainda a andar. Onde estão os guardas florestais, o que foi feito deles?», questiona.

Garantindo que «não se combatem incêndios sem outras e melhores políticas agrícolas e florestais», a CNA destaca o facto de continuarem este ano a arder as áreas protegidas e as matas nacionais.

«A acção do Governo nesta matéria não constitui exemplo para ninguém», concluiu.
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