Crise «atira» pescadores para a construção civil - TVI

Crise «atira» pescadores para a construção civil

Lota de Peniche (Foto: MARIO CALDEIRA/LUSA)

Sector está fragilizado e não só por causa do aumento do preços dos combustíveis

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«Vive-se uma situação insustentável na pesca e há muitos pescadores portugueses que ou imigram ou deixam esta actividade. Há quem vá mesmo para a construção civil, porque já não têm condições para manter as suas embarcações e preferem encostá-las».

O desespero leva a esta postura, como contou o presidente do Sindicato dos Pescadores do Norte, poucas horas antes do início de uma greve com tempo indeterminado, que se inicia nesta sexta-feira.

Os preços dos combustíveis «triplicaram» nos últimos anos e isso afecta nomeadamente a pesca artesanal, que representa 90% do sector em Portugal. Aliás, mais de 30 por cento dos custos de produção deriva dos combustíveis e «quanto mais aumentam, menos dinheiro há para os ordenados», frisa António Macedo.

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E, enquanto a pesca industrial tem uma isenção no gasóleo, que sai a cerca de 77 euros, a artesenal recorre quase sempre à gasolina, que tem o mesmo preço das bombas de gasolina normais. «A situação é grave. Os pescadores ganham hoje o mesmo, ou menos, do que há 10 anos atrás», comentou o dirigente sindical.

Sendo assim, o argumento avançado pelo Ministro Jaime Silva de que o impacto do aumento dos combustíveis não afecta apenas a pesca, não colhe, dado que a comparação com outros sectores não é real: «Na pesca nunca se sabe o que se vai pescar, o que torna impossível ao sector reflectir no produto final o custo dos aumentos dos combustíveis. Isso já não acontece, por exemplo, com as transportadoras, que podem subir o preço dos bilhetes».

Recorrer a outras actividades

Enquanto em Espanha «alguns pseudo-intelectuais falam no regresso aos barcos à vela ou sugerem o uso de parapentes», segundo revela o sindicalista galego Xavier Aboi, em Portugal há quem recorra à imigração ou outras actividades.

«Para além dos problemas dos combustíveis, há muitas outras limitações, por isso os pescadores acabam por estar nas mãos dos comerciantes, que são quem define o preço do pescado», refere António Macedo, lembrando que o pescado é vendido muito barato nas lotas e muito dele acaba mesmo por ser rejeitado.

Para Fernando João, pescador português emigrado em França há nove anos, era «impossível continuar em Portugal». Trabalha numa empresa de pesca por arrasto e não se arrepende. «Após a greve de 99, percebi que não havia outra solução aqui e tinha mesmo de emigrar. Lá, as condições são muito melhores, tanto a nível de ordenado como outras situações que também nos ajudam», contou ao PortugalDiário, explicando que «até na greve, que em França já dura há vinte dias, há um apoio mínimo». A greve francesa já tem afecta o mercado de consumidores e, por exemplo, «na zona de Marselha já há restaurantes a fechar por falta de peixe».

Esta crise também leva portugueses a mudar de actividade. «Temos conhecido casos de pessoas que não têm outra solução senão deixar a pesca. Aconteceu recentemente com um ex-dirigente nosso que foi trabalhar para a construção civil na Suíça», conta António Macedo. O dirigente lamenta que se esteja a chegar a um ponto de ruptura, sabendo que em 1986 havia 41 mil pescadores em Portugal e agora só há 17 mil, segundo dados de 2006.
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