Coimbra: funcionário em greve de fome

O responsável técnico por quatro equipamentos desportivos da Câmara de Coimbra cumpriu esta tarde 24 horas de greve de fome, que afirma estar a fazer em defesa de condições para um bom desempenho, seu e da equipa que dirige.

No exterior da piscina e pavilhão multiusos da Solum, numa cadeira amarela, de onde por vezes se levanta para passear, Fernando Ventura, engenheiro mecânico, confessou à agência Lusa não ser pessoa do «género de sair de gatas», e por isso só abandonará a sua luta «de maca, ficando com condições no emprego, ou saindo pela porta».

«Ou me dizem para ficar e tenho condições para trabalhar e executar as ideias, ou me dizem: você não serve para desempenhar as funções, e acaba-se com esta pressão diária», afirmou, embora admitindo que «hoje o emprego tem um valor inestimável».

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O vereador do desporto da autarquia, Luís Providência, considera que «a greve não tem justificação nenhum, e afirma que, do seu ponto de vista pessoal, a atitude de Fernando Ventura «não é uma reacção de uma pessoa que está bem».

O autarca referiu à agência Lusa que aquele técnico da Câmara de Coimbra, com sucessivos contratos a termo desde Junho de 2005, tem tido «gravíssimos problemas de relacionamento interpessoal» e que tem vindo a desvalorizar as queixas de outros responsáveis, até sexta-feira, quando «quebrou as normas de bom relacionamento» consigo.

«Não se trata de competência técnica», sublinhou Luís Providência, acrescentando que nessa mesma sexta-feira o designou como interlocutor da autarquia com uma empresa que irá realizar uma auditoria de eficiência energética aos equipamentos desportivos.

Com a atitude tomada, o autarca diz que não irá propor a renovação do contrato de Fernando Ventura, que este diz ter como data limite Outubro do corrente ano.

«Tenho andado para aqui em auto-gestão, o que não é bom. Nunca tive com o vereador uma reunião de trabalho onde me impusesse metas e objectivos», referiu o técnico, acrescentando que recentemente teve conhecimento de que irá ser efectuada uma alteração orçamental que eliminará uma rubrica de 100 mil euros que se destinaria a investimentos no sector onde desenvolve a actividade.

Fernando Ventura diz que esses 100 mil euros, aprovados no orçamento da Câmara para 2008, resultavam de uma proposta que fez, para a aquisição de equipamentos e para co-financiar projectos de eficiência energética a candidatar no âmbito do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), o que agora fica inviabilizado.

«Dificuldades todos temos. Ninguém tem o orçamento que deseja», argumentou Luís Providência, acrescentando que ele próprio só na semana passada recebeu um computador portátil solicitado há dois anos.

Fernando Ventura sustenta que a sua equipa tem carência de ferramentas e de materiais, e nem sequer uma viatura tem para se deslocar, e duas das piscinas sob a sua alçada localizam-se em freguesias do limite urbano, em S. Martinho do Bispo e Eiras.

«Pode parecer muito extremada esta atitude. O facto de ter uma equipa solidária atesta a meu favor. Há valores de competência, de honestidade, que nunca deixarei que sejam postos em causa», sublinhou.

Afirmando não ir desistir da luta, Fernando Ventura confessou à agência Lusa recear que esta noite passada ao relento, entre a cadeira e um desentorpecer de pernas em redor, seja mais difícil que a anterior, mas conta com a força da ideia que o move e o apoio de amigos e familiares.