«Sou muito mais do que uma mama» - TVI

«Sou muito mais do que uma mama»

Cancro da mama (foto de arquivo)

Marina Pelágio é médica de família e há seis anos teve cancro da mama. É de um pragmatismo raro e de um optimismo inexcedível. Não teve dúvidas: «Tire tudo». Depois, pôs uma «prótese maravilha», continua a trabalhar, mas alterou a lista de prioridades. Agora, diz, «quero viver»

Relacionados
«Foi um choque muito grande, mas hoje tenho uma vida normal, se não fossem os outros a olhar, nem me lembrava». Marina Pelágio é médica de família num centro de saúde e há seis anos teve cancro da mama. É de um pragmatismo raro e de um optimismo inexcedível. Pôs uma «prótese maravilha», continua a trabalhar, «mas tudo mais soft», e alterou a lista de prioridades na sua vida: primeiro ela e a família. «Não vale a pena ódios, invejas, lutas, nada disso. Agora quero viver, gozar a minha vida».

Marina tinha 47 anos quando, ao fazer a sua mamografia e ecografia anual de rotina (sabia que tinha uma mama muito fibrosa, que carecia de acompanhamento), o médico detectou algo diferente. Fez logo uma biópsia, que detectou algumas células neoplásicas, mas o resultado não era muito conclusivo. «Decidi ir falar com um cirurgião do IPO, que decidiu abrir para ver. Antes disso, avisou-me: «Das duas uma, ou vai para casa ou tira-se a mama».

Quando acordou da anestesia, Marina ainda tinha a mama e pensou que estava tudo bem. Mas o médico quis levar a amostra para o IPO para cortar em fatias fininhas e analisar melhor. «Detectaram-me um carcinoma», conta Marina. «E disse-me que achava que tinha tirado tudo, agora eu tinha de decidir se queria fazer radioterapia ou uma mastectomia total». Marina nem hesitou: «Tire tudo».

«Não queria ser tratada como uma coitadinha

No dia seguinte, 24 horas depois, esta médica foi novamente operada, numa clínica privada, e fez mastectomia da mama direita e tirou gânglios do braço. «Depois disso não queria ver ninguém, não queria ser tratada como uma coitadinha. Só queria ver o meu marido, o meu filho, os meus pais, que foram fantásticos e fundamentais».

Há momentos que não se esquecem e as palavras não conseguem contar tudo. Marina só consegue dizer que «o choque foi muito grande. O mundo caiu para mim, acabou¿ Eu e o meu marido olhámos um para o outro e não queríamos acreditar». A partir daqui, Marina direcciona o discurso para o salto que teve de dar: «o meu filho tinha 17 anos, precisava ainda muito de mim, eu queria ser avó, tinha muito para viver».

A família ajudou-a como soube e como conseguiu lidar com a doença: «O meu filho afastou-se um bocadinho e tentou compensar a mãe de alguma forma. Estudou, estudou, estudou e nesse ano teve notas de 18 e 19 valores. O meu marido ajudou-me imenso, dava-me banho, arranjava-me o cabelo, ia comigo todos os dias ao IPO¿ Foi fantástico».

Este apoio, explica Marina, é fundamental, «é isso que nos faz andar para a frente. Uma vez encontrei uma senhora no IPO que me perguntou se eu gostava do meu marido, eu disse-lhe que sim, claro. Ela respondeu-me. «Olhe, eu não gosto, eu odeio o meu marido, ele não me compreende e não compreende a doença». Se calhar precisam os dois de fazer terapia, respondi-lhe. Ela disse-me que não tinha dinheiro».

Leia aqui a continuação da história de Marina Pelágio
Continue a ler esta notícia

Relacionados