Subsídio de Natal já nem serve para pagar prendas - TVI

Subsídio de Natal já nem serve para pagar prendas

  • Rui Pedro Vieira
  • 7 dez 2007, 17:19
Americanos começaram corrida às compras de Natal - Foto EPA

Portugueses são comodistas para comparar preços e escolher o mais barato

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Os portugueses gastam muito e mal, diagnostica o director da Associação para o Posicionamento Estratégico e Financeiro (APEFI). Em entrevista à Agência Financeira, o também coordenador do Portal da Poupança, João Martins, alerta para os «truques» de quem quer vender nesta época e mostra-se preocupado com o facto «de se dar crédito a quem não o pode ter».

Um estudo recentemente divulgado pela Deloitte diz que, em média, um português gasta 596 euros no Natal. Gastamos demais?

Os portugueses gastam demais e gastam mal. Temos a ideia de que o subsídio de Natal serve para pagar as prendas da época, mas na verdade serve para pagar as despesas com cartões de crédito que já estavam no limite desde o subsídio de férias. Um cartão de crédito com 24 ou 25 por cento de juros é quase tanto como pagar uma casa. O que se passa é que as pessoas vão ao supermercado comprar os produtos mais baratos, mas depois usam o cartão de crédito para os pagar. E refiro-me às compras do mês, até porque o subsídio de Natal serve cada vez menos para pagar as prendas.

Não há, portanto, muita racionalidade na gestão do orçamento nesta época.

Não, não existe e sobretudo este ano em que acaba de ser anunciado um nível de inflação de 3% na Zona Euro. Esta é uma grande subida e é impossível recuar, tanto nos Estados Unidos como na Europa. Tendo em conta que tudo é comprado à base do crédito, gastar mais neste Natal não vai ser nada agradável, até porque só vai gerar dívida para o subsídio de férias do próximo ano. Não estou mesmo a ver a economia a aguentar-se os próximos seis meses com políticas mais restritivas de crédito, com o sobreendividamento a subir em flecha e com o endividamento de risco sem solução. Não se aproximam tempos fáceis.

É possível perceber até que ponto as lojas aliciam os consumidores a comprarem desmesuradamente?

Ao promoverem compras sem juros ou levar a que a compra a crédito seja mais barata do que a pronto, é fácil de perceber que aí as lojas têm uma série de comissões por trás. A questão mais preocupante é o facto de se dar crédito a quem não o pode ter. Até há bem pouco tempo, para se dar crédito bastava respirar!

A Deco publicou, há poucos dias, um estudo que revela que, nesta época, os preços de um mesmo produto podem variar para quase o dobro do preço, consoante a loja. Os portugueses têm consciência disto?

As pessoas seguem, geralmente, uma fidelização a uma loja ou a um hipermercado onde costumam ir e não fazem essa comparação de preços na compra. Não há, realmente, uma cultura de comparação de preços. Basta constatar que na Internet existem milhares de sites de comparação de preços e em português não há nenhum. Ou melhor, há um mas que nem sequer é feito cá em Portugal.

A APEFI tem defendido que os bancos são pouco claros. Em que é que os consumidores devem estar atentos, particularmente no período de Natal?

Em nada de diferente face às outras épocas, mas, por exemplo, toda a gente que trabalha na associação, por coincidência ou não, na última semana recebeu propostas de cartão de crédito. Coisa que não tínhamos recebido antes. As pessoas têm de estar mais atentas às solicitações do banco. A nossa missão principal é atacar aquilo que chamamos de «assassino silencioso», que é o cartão de crédito. Segundo as nossas contas, cada cartão de crédito tem em média 30 despesas escondidas, ou seja, que estão escritas nas letras pequenas dos contratos.

Como é que um consumidor se pode defender disso, além de estar atento?

Há uma maneira de uma pessoa se defender disto, que é pagar o cartão de crédito a 100 por cento. Não envolve risco nenhum e contraria a tendência de deixar o saldo para o mês seguinte. Este procedimento, o de deixar para o mês seguinte, é onde os bancos ganham mais comissões, que são bastante elevadas. Não são de 1 ou 2%, mas de 12%!
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