O último telefonema de Reinado - TVI

O último telefonema de Reinado

  • Portugal Diário
  • 15 fev 2008, 14:37
Alfredo Reinado (EPA/Antonio Dasiparu)

O major Alfredo Reinado não via a mulher e os quatro filhos há dois anos, mas telefonava-lhes quase todas as noites. A filha mais nova, nunca chegou a conhecê-la. No dia antes do duplo atentado que liderou, disse à mulher para cuidar bem dela e das crianças Ninguém quis prender Reinado

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Um dia antes de ter sido abatido num tiroteio à porta do presidente José Ramos-Horta, o líder rebelde Alfredo Reinado telefonou à sua mulher, dizendo-lhe que ela deveria ter sempre cuidado consigo e olhar pelos quatro filhos do casal, Billy, Donovan, Tiffany e Felicity.

«Na nossa última conversa, ele pediu-me para lhe prometer que cuidaria bem de mim e das crianças», disse, citada pela BBC, acrescentado: «Prometeu-me uma vez que eu nunca seria uma viúva, mas agora ele morreu. Não vou quebrar a promessa que lhe fiz.

Maria Reinado, 30 anos, vive em Perth, na Austrália, com os seus quatro filhos desde 2006, altura em que os tumultos causados pela rebelião liderada pelo marido obrigaram a uma mudança de país por razões de segurança.

A família separou-se nessa altura, quando estava a caminho o quarto filho do casal. Reinaldo ficou em Timor, Maria foi para a Austrália. Desde essa altura, nunca mais se viram.

Felicity, a filha mais nova, nunca conheceu o pai. É por isso que não é fácil explicar o seu desaparecimento às crianças: «Eles dizem-me que o pai ainda está vivo e não acreditam no que vêem na TV. Encorajo-os a chorarem e relembro-os diariamente deste horrível pesadelo ¿ esconder a realidade é um disparate», confessa Maria.

«As crianças falavam com o pai por telefone quase todas as noites, eles eram muito próximos», disse.

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«Alfredo encorajava-me e dizia que tinha de ser forte por causa dos nossos filhos. Por vezes eu chorava sozinha à noite para que as crianças não me vissem fraquejar».

Por razões de segurança, Maria Reinado não foi ao enterro do marido. Dadas as circunstâncias da morte de Alfredo Reinado, amigos consideram ser demasiado perigoso regressar a Díli. Mas talvez acabe por ter de regressar. Maria pediu protecção permanente à Austrália, que foi entretanto recusada. Caso o ministro da Imigração Chris Evans não intervenha, a viúva terá mesmo de voltar a Timor-Leste.

«Nunca serás uma viúva»

Maria conheceu Alfredo quando tinha 15 anos, em 1992, por intermédio do seu irmão «Afri». Começaram a namorar um mês depois e casaram quando o pequeno Billy era bebé, em 24 de Maio de 1995. Viveram depois quatro anos na Austrália e foi lá que nasceu Donovan.

Leia aqui um depoimento de Maria Reinado na primeira pessoa.
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