«Enganei-os a todos! Ainda estou cá» - TVI

«Enganei-os a todos! Ainda estou cá»

Cancro: histórias de sobrevivência

Durante os tratamentos, sem forças, com dores insuportáveis e incapaz de conseguir comer, chegou a desistir de viver, mas conseguiu ultrapassar a «tempestade». Dedicou-se ao voluntariado e diz-se um felizardo

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«Como consegui ultrapassar o impensável ganhei alento para ajudar os outros e percebi que sou um felizardo». Fernando Peixoto é um dos poucos sobreviventes de cancro da nasofaringe em Portugal. Durante os tratamentos, sem forças, com dores insuportáveis e incapaz de conseguir comer, chegou a desistir de viver, mas conseguiu ultrapassar a «tempestade». Feito isto, dedicou-se a ajudar os outros. «Sinto prazer em fazer isto», explica. «Se tivermos um bom coração temos de ajudar quem está pior».

No Instituto Português de Oncologia do Porto, todos conhecem Fernando Peixoto, é o único voluntário errante, ou seja, passa por todas as valências, onde for chamado, onde puder dar algum apoio psicológico ou animar algum doente. «É a minha segunda casa», conta. Bebe um golinho de água. Fora do IPO e num lar de idosos, onde a mãe esteve internada, faz terapia da dor a quem precisa. «Ando de um lado para o outro, mas os outros precisam».

«Não me lamento, porque acho que seria egoísta»

Como consegue ser tão optimista? «Se pensarmos que há quem esteja pior, isso é um incentivo para lutarmos, para ganhar forças para conseguirmos superar os nossos problemas e sermos disciplinados». Bebe mais um golinho de água. E continua: «Não me lamento com a doença porque acho que seria egoísta, uma vez que há quem esteja pior do que eu. Habituei-me a pensar isso».

Em 1993, Fernando Peixoto teve um problema na nasofaringe devido ao tabaco e ao ar condicionado. «Trabalhava em informática numa grande empresa e tinha colegas que fumavam três maços de tabaco por dia, acendiam um cigarro no outro». Interrompe o raciocínio e pega novamente na garrafa para beber. «Comecei a ter um bloqueio nasal e perda de audição. Eu estava a ser acompanhado por um otorrino, mas continuava a piorar e a gastar muito dinheiro». Decidiu mudar de médico.

O novo especialista mandou fazer exames e, dois dias depois, disse-lhe que teria de o operar no dia seguinte porque tinha um tumor. Assim. Sem mais. Mas Fernando Peixoto não ficou abalado: «Encarei com naturalidade. Antes de ir para casa fui ter com os meus colegas de trabalho e contei-lhes. Precisava de desabafar. Éramos muito unidos e ficaram todos desorientados...» E a família? Antes, um golinho de água. «Para a minha mulher foi um choque violento... os meus filhos... um tinha 16 e outro 19... foi brutal».

Fernando Peixoto não quer perder muito tempo com isto. Está dito. Foi assim. Quer avançar. Avancemos. «O médico não se atreveu a tirar o tumor. Era muito arriscado. Eu podia ficar numa cadeira de rodas. Fiquei-me pela biópsia. Depois lembro-me do médico me dizer que tinha de fazer os tratamentos rapidamente. Comecei no IPO».

«Desisti de viver...»

O tratamento consistia em 40 sessões de radioterapia - o máximo - e seis sessões de quimioterapia. «Ao fim da quinta sessão de radioterapia já não conseguia comer, tinha muitas dores, a minha boca estava toda infectada, como se estivesse completamente coberta de aftas, céu da boca, língua, tudo, tudo...» Um pouquinho mais de água. «Tem mesmo de ser», explica.

À décima sessão, recorda, «desisti de viver. A minha mulher trazia-me a comida e eu ganhava forças para ir à casa de banho e deitar metade fora. Era uma forma de a consolar. E de não me torturar. A dor era uma coisa horrível, não conseguia comer». Sem se alimentar, vieram as consequências: «A dada altura senti que estava a partir. Comecei a ver fantasmas... Os médicos perceberam o que estava a acontecer e levaram-me a um nutricionista. Comecei a comer comida de bebé».

Leia aqui a continuação do testemunho de Fernando Peixoto
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