«Sinto-me incapaz de acreditar em Deus» - TVI

«Sinto-me incapaz de acreditar em Deus»

«José Saramago. A consistência dos sonhos»

«Ainda que não seja crente, a religião está no ar, respiramo-la. Não se pode ignorar», diz Saramago

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José Saramago diz-se incapaz de acreditar em Deus, mesmo fazendo um esforço mental. «Sou ateu e sinto-me incapaz, mesmo fazendo um esforço mental, de acreditar em Deus, de me aproximar dessa sensação», afirmou o escritor português ao jornal La Vanguardia, da Catalunha.

Numa extensa entrevista publicada hoje, Saramago analisa o conteúdo da sua última obra ¿ Caim, e explica que recorreu à Bíblia «como instrumento para armar a história».

«Nunca tive qualquer dúvida sobre as consequências enormemente negativas e nefastas da existência das religiões, que inevitavelmente se opõe umas às outras», disse. «Matar, matar, matar. Foi isso que fizeram ao longo da história e não há nada a acrescentar ao seu historial sangrento», disse.

Admitindo não ser um escritor de temas religiosos, Saramago explica que isso não significa que a religião não lhe interesse.

«Ainda que não seja crente, a religião está no ar, respiramo-la. Não se pode ignorar», disse, recordando a polémica em torno à sua obra «Evangelho Segundo Jesus Cristo» e à reacção do então primeiro-ministro, Cavaco Silva, que o fez abandonar o país. «Até um livro sagrado como a Bíblia permite - e exige - que tentemos lê-lo por outro lado. E esse outro lado sempre rectifica as ideias que temos, assim como confirma outras», refere sobre a obra.

«Nós, os homens, criamos Deus à nossa imagem e semelhança, não ao contrário. Por isso é tão cruel, má pessoa e vingativo. Deus e o demónio não estão no céu nem no inferno, estão na nossa cabeça. Primeiro criamos Deus e logo nos escravizamos a ele», conclui.
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