Teve um restaurante, foi vendedor e quer voltar ao futebol - TVI

Teve um restaurante, foi vendedor e quer voltar ao futebol

Carlos Fernandes

Carlos Fernandes terminou a carreira profissional em 2011, após 13 épocas e 270 jogos na Liga

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«Depois do Adeus» é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como sobrevivem os que não ficam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para o email vhalvarenga@mediacapital.pt.

Carlos Fernandes marcou presença na Liga portuguesa ao longo de 13 épocas consecutivas, entre 1998 e 2011, disputando 270 jogos no escalão principal. Formado no Sporting, o lateral esquerdo estreou-se pela equipa leonina aos 17 anos mas não passou de uma aposta esporádica.

Com longo historial de internacionalizações (35) pelas seleções jovens de Portugal, Carlos Fernandes assumiu-se como opção regular em clubes como Lourinhanense, Campomaiorense, Farense, Belenenses, Boavista, Sp. Braga, Marítimo, Olhanense e Naval.

O lateral esquerdo disputou o último jogo a 25 de setembro de 2011. Mais de nove anos após esse Naval-Penafiel, para a II Liga, o Maisfutebol encontra-o a reunir argumentos para regressar ao futebol, depois de uma curta experiência como proprietário de um restaurante e outra, bem mais longa, como vendedor de publicidade para o setor da restauração.

«Depois de deixar de jogar, comecei por abrir um pequeno restaurante. Infelizmente, durou cerca de um ano e pouco, devido à economia e à minha pouca experiência na área. Eu tinha a noção que o restaurante seria um risco enorme, mas tinha de me pôr a mexer, não podia ficar no sofá à espera», começa por recordar.

Carlos Fernandes perdeu «algum dinheiro» com o restaurante mas desenvolveu contactos para explorar outra área: as vendas. «Fui convidado para trabalhar em publicidade. Estive três anos a trabalhar como comercial, direcionado para a restauração. No fundo, visitava cafés e restaurantes, analisava a imagem que tinham e apresentava propostas para melhorarem a imagem, o que lhes permitia ter melhores resultados», explica.

«O treinador também é um vendedor»

«Adorei trabalhar nessa área, foram três anos alucinantes e percebi que o meu futuro podia estar ali, nas vendas. Agora tenho o objetivo de ser treinador e tenho condições para lutar por isso, sabendo que o treinador também é um vendedor: está a vender as suas ideias a um grupo de jogadores que as vais interpretar», frisa o antigo jogador.

Foram então nove anos sem ligação permanente ao futebol, um vínculo umbilical cortado pela raiz, com enormes dores associadas. «Foi muito complicado, de facto. A verdade é que não me preparei convenientemente para o fim da carreira e os anos que se seguem não são nada fáceis. Felizmente, a experiência como comercial fez-me ver que tenho qualidades nessa área: se tiver um bom produto para vender, eu vou à luta», diz Carlos Fernandes.

Então, o que mudou? Aos 42 anos, nove após o final da carreira como jogador profissional, o que motiva Carlos Fernandes a apresentar publicamente uma candidatura para o regresso total ao futebol, preferencialmente como treinador?

«Uma coisa é fazer o que nos motiva, outra é simplesmente levantar-nos para irmos para um emprego qualquer. Recentemente, comecei a colher o que andei a semear no passado e neste momento tenho uma situação financeira estável, que me permite seguir esse sonho. Caso contrário, não seria possível, como não foi até aqui», reconheceu, explicando: «Tive uma lesão grave durante a carreira, em que até tive de ser operado ao nariz, e comecei a receber uma pensão por causa disso.»

«Não quero ser apenas mais um»

Carlos Fernandes pretende, assim, apostar na sua formação para preparar um regresso a tempo inteiro ao mundo do futebol: «Faço com frequência comentários na imprensa e nunca deixei de acompanhar o futebol. Como costumo dizer, este é o meu jogo. Fui acompanhando ao pormenor o que mudou ao longo dos anos e sinto que tenho capacidade para voltar.»

«Fiz o meu curso de I Nível, tirei um curso de Gestão de Clubes e vou agora tirar o 12.º ano. Já tenho o curso de I Nível há dois anos, desde então surgiram algumas oportunidades, mas gostava de ir já com mais cursos, devidamente preparado. Assim que chegar ao terreno, perceberei rapidamente se serei apenas mais um ou não. Não quero ser só mais um.»

No fundo, Carlos Fernandes ainda não orientou qualquer equipa porque pretende ser como treinador aquilo que foi como jogador: no mínimo, acima da média. Para a história ficaram por exemplo as 35 internacionalizações pelas camadas jovens da seleção, desde um Portugal-Bélgica de sub-16, em 1994.

«Não me esqueço do que senti quando ouvi o hino no primeiro jogo, do que senti ao estar com 16 anos em Dublin, num Campeonato da Europa, dos jogos contra uma geração muito forte da França, a França do Trezeguet, do Anelka e do Thierry Henry», recorda.



«Foram 13 anos em que dei tudo de mim»

Carlos Fernandes também não esquece a estreia pela equipa principal do seu Sporting, aos 17 anos, no terreno do Gil Vicente (28 de abril de 1996): «Entrei anos e anos pela Porta 10A a virar para o departamento de Formação, sempre com o sonho de certo dia entrar na porta e virar para o lado dos profissionais. Consegui disputar dois jogos pela equipa principal, com Octávio Machado, mas infelizmente ele saiu quando estava previsto que eu passasse a integrar o plantel em definitivo.»

«Fiz a formação toda no Sporting, fui campeão de iniciados, juvenis e juniores, e não é fácil sair de uma equipa grande para ir jogar para uma equipa que luta pela manutenção. É algo que tem de ser repensado. Por exemplo, adorei jogar no Farense, mas era uma equipa que lutava para não descer, nada a ver com os princípios de jogo adquiridos até então. O atleta desaprende», desabafa o antigo lateral.

Habituado a processos simples e bem vincados, Carlos Fernandes teve de se adaptar: «Fiz uma segunda época muito boa no Farense e o mister Jesualdo Ferreira ia-me buscar para o Benfica, porque eu tinha salários em atraso, mas os dirigentes do Farense pagaram-me à pressa os salários e não me deixaram sair.»

Carlos Fernandes vinha de empréstimos ao Lourinhanense e ao Campomaiorense, ainda com ligação ao Sporting. Após três épocas no Farense, fixou-se no escalão principal ao serviço de Belenenses, Boavista, Sp. Braga, Marítimo e Olhanense. Viria a terminar a carreira na II Liga, com a camisola da Naval 1º de maio.

«Foram 13 anos de primeira divisão em que dei tudo de mim. Fiz mais de 250 jogos só na primeira divisão e orgulho-me muito da minha carreira. Claro que gostaria de ter chegado mais além, gostava por exemplo de ter feito parte do plantel do Sporting, mas tive azar. Dei o máximo ao longo dos anos», remata o ex-jogador.

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