Fajardo: o técnico de ar condicionado que jogou na Liga - TVI

Fajardo: o técnico de ar condicionado que jogou na Liga

Fajardo

Representou clubes como Belenenses, Naval e V. Guimarães antes de terminar a carreira profissional num Farense que passou a ser seu; a morar no Algarve, teve de aprender novos ofícios para subsistir

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«Depois do Adeus» é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como sobrevivem os que não ficam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para o email vhalvarenga@mediacapital.pt.

João Fajardo tem longo historial na Liga portuguesa. Não esquece o dia em que venceu o FC Porto de José Mourinho por 3-0, na estreia pelo Belenenses em 2002, os anos da Naval 1.º de Maio no escalão principal, os jogos europeus pelo «grande» Vitória de Guimarães e o contributo para o início da recuperação do Farense, último clube da carreira profissional, em 2013.

Radicado em Faro, o antigo jogador teve de aprender novos ofícios para subsistir. «Estive muitos anos a trabalhar na Portway, no Aeroporto de Faro, entretanto tive mais algumas profissões e atualmente sou auxiliar de técnico de ar condicionado na AcavTeam, uma empresa em Almancil», começa por explicar, ao Maisfutebol.

«A empresa é de uns amigos meus, precisavam de alguém, decidi experimentar e gostei. Não faço cara feia às coisas. Hoje em dia, reparo e instalo aparelhos de ar condicionado, mas também painéis solares, sistemas de aquecimento e de refrigeração. Trabalho aqui há seis meses, já sei fazer de tudo um pouco mas preciso de tirar o curso para ter o grau de técnico. Quero tirar mas tem sido difícil por causa da pandemia», salienta João Fajardo.

Médio ofensivo ou extremo direito, com uma técnica bastante interessante, Fajardo teve uma carreira de bom nível. Porém, tal não representou qualquer garantia financeira para o futuro. «Poucos são os que conseguem viver do futebol para sempre. Ganha-se bom dinheiro mas não consegue ganhar para a vida inteira. Ou se abre um negócio, ou é difícil. Mesmo os negócios podem correr mal e, em vez de termos uma vida estável, às vezes rebentam com o que acumulámos na carreira.»

Admitindo ser difícil passar de uma vida folgada como jogador de futebol para uma rotina de comum trabalhador, João Fajardo congratula-se por ser um bom exemplo de transição para um novo meio profissional. «Já aconteceu várias vezes ser reconhecido quando vou aos serviços, as pessoas conhecem-me aqui na zona, sorriem, se calhar estranham eu estar ali, mas tem de se trabalhar, não me faz a mínima confusão.»

«Fiquei a morar em Faro porque é uma cidade com qualidade de vida, onde mora a minha ex-mulher e o meu filho. Terminei a carreira profissional em 2013 e ainda joguei, já como amador, no Moncarapachense e no 11 Esperanças», salienta.

«Vencemos o FC Porto do Mourinho por 3-0»

A subsistência passou a ser garantida em outros circuitos mas Fajardo nunca perdeu o futebol de vista. Aliás, está de volta ao seu Farense: «Quando terminei a carreira profissional como jogador, fiquei dois anos como diretor para o futebol do Farense, a convite do presidente. Gostei bastante do tempo em que lá estive mas não me revejo muito nessas posições.»

«Desde então, foi treinador durante quatro anos nas camadas jovens do Montenegro e, no início desta época, convidaram-se para treinar a equipa de 2008 do Farense. Gosto muito de treinar camadas jovens. Veremos se no futuro quero treinar jogadores mais velhos, mas para já estou bem assim. Serve para matar o bichinho», frisa Fajardo.

O bichinho acompanha João Fajardo desde as camadas jovens do Belenenses. Formado no clube do Restelo, cresceu com empréstimo aos Pescadores e ao Atlético antes de fazer a estreia na Liga durante um jogo inesquecível: «Vencemos o FC Porto do Mourinho por 3-0, no Restelo, com golos de Verona, César Peixoto e Cafú.»

«Estive no Belenenses desde os 10 até aos 24 anos, entre os empréstimos. Foi onde me fiz homem e foi o clube que me deu tudo. Tenho uma grande tristeza porque eu nasci e fui criado no Clube de Futebol Os Belenenses, o clube que está na Distrital, não o que está na Liga», desabafa.

Dispensado pelo Belenenses em 2003, Fajardo seguiu para a Figueira da Foz e contribuiu para o período dourado da Naval 1.º de Maio. «Estive quatro anos na Naval e foram anos espetaculares. As duas primeiras épocas foram na II Liga mas subimos pela primeira vez na história do clube e fiz épocas de grande nível. Foram anos maravilhosos.»



«O Vitória é um grande, em todos os aspetos»

Os desempenhos na Naval justificaram um convite do Vitória de Guimarães para duas épocas inesquecíveis na carreira do jogador. «Foi o clube mais alto a que cheguei. Claro que há sempre uma frustração por não ter chegado a um Benfica, um FC Porto ou um Sporting, mas para mim o Vitória é um grande, em todos os aspetos. Não há palavras para descrever aqueles adeptos, aquela cidade. A cidade trata-nos como reis e temos de dar tudo por aquele clube.»

Fajardo chegou ao Vitória em 2007 e contribuiu para a melhor classificação do clube na Liga. «Cheguei no ano em que o Vitória regressou à Liga e tivemos um desempenho fantástico. Terminámos em 3.º, à frente do Benfica, e fomos à pré-eliminatória da Champions. Infelizmente, foi aquela eliminatória do golo mal anulado ao Roberto, frente ao Basileia, que nos impediu de ir à fase de grupos. Fomos para a primeira eliminatória da Liga Europa e acabámos por perder frente ao Portsmouth», lamenta.

Após duas épocas em Guimarães e já com trinta anos, o jogador tentou a sua sorte no estrangeiro, para ganhar maior independência financeira, mas a experiência no Panthrakikos durou apenas seis meses: «Foi uma experiência frustrante. Fui tentar a minha sorte mas correu mal e perdi por completo a vontade de emigrar novamente».

De volta a Portugal, João Fajardo ainda passou por Belenenses (uma vez mais) e Santa Clara antes de chegar ao Farense, em 2011. «Já costumava treinar na pré-época com o Farense, pediam-me sempre para ficar e naquele ano proporcionou-se. Estive muitos anos longe de casa e decidi ficar perto da família», explica.

«É gratificante ver o Farense de volta à Liga, o Farense foi-se consolidando, começou do zero e foi crescendo, é muito importante sentir que fiz parte dessa história, mesmo que tenha sido apenas um grãozinho de areia. Moro em Faro e quanto tudo isto passar, serei mais um a apoiar nas bancadas», promete o antigo jogador, rematando: «Tenho muitas recordações da carreira e muito orgulho naquilo que consegui. Foi uma carreira muito a pulso, sempre a dar provas do meu valor, e é muito gratificante saber que fiz parte da evolução de clubes como a Naval, o Vitória ou o Farense.»

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