Grécia: quando o voto não decide sozinho - TVI

Grécia: quando o voto não decide sozinho

Bandeira da Grécia

Resultados das legislativas criaram uma grande confusão, por isso vêm aí novas eleições. Sondagem dá vitória ao Syriza. Eurodeputados explicam o fenómeno e comparam-no à esquerda portuguesa

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Se há coisa que o povo grego mostrou nas eleições legislativas de 6 de maio é que não está contente com o rumo do país. A divisão de votos e a queda abrupta dos grandes partidos, habituados a governar, provam isso mesmo. Os eleitores castigaram a Nova Democracia e o PASOK, quer para a direita, com os extremistas da Aurora Dourada a elegerem deputados pela primeira vez, quer para a esquerda, com o crescimento acentuado da Esquerda Radical. No entanto, os votos não resolveram o problema. Aliás, criaram outro, pelo que em junho haverá novas eleições.

Desafiados a comentar a crise política grega, os eurodeputados Marisa Matias e Rui Tavares, ambos eleitos pelo Bloco de Esquerda, mas entretanto divididos em grupos parlamentares diferentes, explicam o fenómeno e estabelecem o paralelismo com o panorama da esquerda nacional.

A confusão instalou-se na Grécia. O partido mais votado, a Nova Democracia de Antonis Samaras, não conseguiu encontrar aliados para um governo de coligação maioritário. O presidente grego, Karolos Papoulias, deu o mandato ao segundo partido com mais votos, o Syriza de Alexis Tsipras, completamente anti-troika. Mas também a Esquerda Radical falhou nas negociações e recusou integrar um governo de unidade nacional. O socialista Evangelos Venizelos ainda tentou, nomeadamente através da Esquerda Democrática de Fotis Kouvelis, mas nada feito, porque o partido que surgiu de cisões à esquerda defende a formação de um governo ecuménico, composto por elementos de todos os partidos.

A «batata quente» ficou nas mãos do presidente, que continuou a marcar encontros com os partidos para tentar evitar o cenário de eleições. Um governo de tecnocratas, com figuras sem ligação à vida política, não ficou excluído, mas a opção mais democrática acabou por ser o regresso às urnas.

No entanto, à Nova Democracia e ao PASOK, que antes somavam 80 por cento das preferências do eleitorado, este é um cenário que não agrada, porque a última sondagem coloca o Syriza à frente, com 27,7% dos votos. A traduzir-se esta expressão em deputados, a Esquerda Radical poderá garantir 128, uma vez que o sistema eleitoral grego prevê um bónus de 50 lugares para o partido mais votado. Para isso, Alexis Tsipras terá de encontrar uma maneira de contornar a lei eleitoral, porque, no caso de uma coligação, esses lugares-extra ficam sem efeito. De qualquer maneira, aos dois partidos pró-troika caberiam apenas 93 lugares, ficando assim vulneráveis a uma coligação maioritária entre partidos que rejeitam o memorando.

E eles são muitos. Além dos já enumerados, podem entrar em cena o Partido Ecologista e outros que não garantiram assento parlamentar, ou os Gregos Independentes, fruto de uma cisão à direita, que se declaram anti-troika e arrecadaram 10,6% dos votos a 6 de maio. Quem está, à partida, excluído, é não só a extrema-direita, mas também o Partido Comunista Grego (KKE) de Panos Kammenos, que já recusou qualquer tipo de aliança com o Syriza, porque exige a saída do euro e o abandono do projeto europeu, enquanto a Esquerda Radical mantém uma visão europeísta.

Num parlamento com 300 lugares para tantos partidos e com o eleitorado tão dividido, adivinha-se uma crise política de difícil resolução na Grécia. São muitas as pressões externas para resolver o conflito o mais rapidamente possível, assegurando os compromissos assumidos com a troika, mas os gregos já demonstraram nas urnas que, assim, não aguentam mais.
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