Parlamento saúda inquérito sobre voos da CIA

O Parlamento Europeu saudou, esta quarta-feira, a abertura de um inquérito-crime em Portugal para averiguar os voos da CIA e «poupou» o governo português a críticas duras, que voltaram a ficar a cargo da deputada Ana Gomes. A notícia foi avançada pela agência Lusa.

Na posição final da assembleia de Estrasburgo sobre os voos ilegais da CIA de transporte de prisioneiros suspeitos de terrorismo, adoptada com 382 votos a favor, 256 contra e 74 abstenções, o capítulo dedicado ao caso português acabou por ser mais moderado que a versão saída da comissão temporária, designadamente quanto à colaboração prestada pelo governo de Lisboa.

Contudo, o governo socialista voltou a ser alvo de duras críticas por parte da deputada Ana Gomes, eleita pelo PS para o Parlamento Europeu, que acusou o executivo de José Sócrates de proteger o governo PSD/CDS-PP, de Durão Barroso e de Paulo Portas, ao dar orientações aos deputados socialistas para a votação de hoje.

O governo PSD/CDS-PP, chefiado por Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia, também fica de fora do documento final, com a exclusão de um parágrafo que lamentava a recusa dos antigos ministros Paulo Portas (Defesa) e Figueiredo Lopes (Administração Interna) de falarem perante a comissão.

A exclusão deste parágrafo viria a abrir hoje uma nova «ferida» no seio da família socialista, com Ana Gomes a acusar o governo de ter dado orientações, através da Reper (Representação Permanente de Portugal junto da UE), para os deputados votarem a favor da supressão do parágrafo em causa.

A exclusão da referência a Paulo Portas não impediu todavia o CDS-PP de votar contra a resolução final, tendo o líder dos democratas-cristãos, José Ribeiro e Castro, alegado «falta de objectividade» nas conclusões.

No final da votação, os dois eurodeputados portugueses directamente envolvidos nas averiguações levadas a cabo ao longo do último ano mostraram-se satisfeitos com a aprovação do documento.

Carlos Coelho considerou que o Parlamento Europeu adoptou hoje uma «mensagem política importante» e afirmou que o texto final aprovado «é mais justo» para Portugal.

Ana Gomes afirmou, por seu turno, que, mesmo apesar das muitas emendas introduzidas, «a substância» está no relatório, que «demonstra o trabalho sério que foi feito no PE e dá os meios às autoridades judiciais e parlamentos que queiram apurar a verdade para que a verdade seja apurada».

Na posição adoptada esta quarta-feira, o PE exorta Portugal a investigar possíveis casos de detidos transportados ilegalmente pela CIA através de território português e saúda a abertura de um inquérito-crime em Portugal sobre o assunto, decidida a 5 de Fevereiro pelo Ministério Público.