Cada vez mais chumbos no 12º ano - TVI

Cada vez mais chumbos no 12º ano

  • Marta Ferreira
  • *
  • 31 jan 2007, 18:01
Repetir os exames nacionais pode ser a solução para muitos alunos

Taxa de retenção e abandono subiu quase 20 por cento em 10 anos

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O número de alunos que não concluíram o 12º ano por chumbo ou desistência aumentou quase 20 por cento entre 1994 e 2004. A subida acentuou-se desde a introdução dos exames nacionais, segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Ministério da Educação (ME).

A taxa de retenção e abandono no 12º ano passou de 29,6 por cento em 1994 para 49,4 por cento em 2005, revela o relatório «30 Anos de Estatística da Educação», que o ME apresentou esta quarta-feira em Lisboa.

A subida acentua-se a partir do ano lectivo 1995/96, quando foram introduzidos exames nacionais obrigatórios para a conclusão do ensino secundário e ingresso no superior.

No ano lectivo seguinte, o número de chumbos aumentou mais de 11 por cento, estabilizando, a partir daí, em valores próximos dos 50 por cento, ou seja, metade dos alunos do 12º ano não consegue concluir o ensino secundário.

«O secundário ressentiu-se com uma quebra drástica da taxa de conclusão por causa do efeito das retenções provocadas pela introdução de exames no 12º ano», disse o sociólogo Rui Santos, na apresentação do relatório.

A culpa é dos exames mas «solução não é suspendê-los»

Também a ministra da Educação admitiu o efeito dos exames nas estatísticas do ensino secundário, mas sustentou, no entanto, que «a medida de política a tomar não é suspender os exames, mas intervir ao nível dos currículos».

«Pergunto o que se fez nos últimos dez anos, desde que há exames, para melhorar os resultados e não vejo aí medidas de política activa. O caminho é intervir ao nível dos currículos, uma vez que os exames são instrumentos essenciais de avaliação externa», disse Maria de Lurdes Rodrigues.

Alunos querem continuar estudos e acabam por desistir

«A realidade estatística vem provar o que já sabíamos: os exames nacionais obrigatórios resultam na subida da taxa de conclusão e desistência no 12º ano», diz ao PortugalDiário Rolando Silva, secretário-nacional da Fenprof e responsável da federação pela política educativa.

A realidade é «ainda mais preocupante se pensarmos que a maioria dos alunos [cerca de um terço] escolhe cursos de regime geral no ensino secundário para poder continuar os estudos e acaba por desistir no último ano», acrescenta o representante dos professores.

Para a Fenprof, os dados divulgados pelo ME esta quarta-feira são «um indicador que tem de se apostar mais nas vias profissionalizantes» e «repensar os sistema de avaliação dos alunos».

Também a FNE acredita que «é urgente que o ensino secundário recupere a sua identidade de finalização dos estudos».

«Somos favoráveis à continuação dos exames. O aumento gritante da taxa de insucesso e abandono resulta da implementação das provas ter sido feita sem terem sido feitos ajustes curriculares e sem que fossem revistos os programas, que são extremamente académicos», explica ao PortugalDiário Maria Arminda Bragança, da FNE.

Segundo e terceiro ciclos «remam contra a maré»

Tendo em conta todo o ensino secundário e não apenas o 12º ano, a taxa de retenção e desistência subiu de 21,3 para 32,1 por cento durante o período analisado.

Em relação ao ensino básico, o mesmo indicador caiu no primeiro ciclo, descendo de 13,1 para 11,8 por cento, tendência contrária à verificada no segundo e terceiro ciclos, nos quais se registaram ligeiros aumentos, de 0,9 e 3,1 por cento, respectivamente.

As escolas públicas apresentam taxas de retenção e desistência superiores às registadas nas privadas em todos os ciclos de ensino.

Os rapazes chumbam mais em todos os anos de escolaridade, com uma taxa de retenção e desistência que chega a atingir o dobro da registada pelas raparigas no segundo ciclo, por exemplo.

*Com Lusa
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