O ex-vice-presidente da Câmara de Marco de Canaveses, Lindorfo Costa, recusou esta quarta-feira em tribunal as acusações de abuso de poder que lhe são imputadas pelo Ministério Público (MP), embora confirmasse que pedia emprestado a quem a autarquia pagava, refere a Lusa.
Entre meados de 2002 e inícios de 2004, as contas de Lindorfo Costa registaram entradas no valor global de 1,7 milhões de euros.
Para o MP, esse dinheiro, obtido dos credores da autarquia a quem era dada prioridade nos pagamentos, serviria para fazer face a dificuldades que Lindorfo Costa enfrentaria numa outra qualidade, a de empresário.
Lindorfo Costa confirmou que pedia que os cheques lhe fossem endossados, contra a entrega de cheques pré-datados pessoais ou da sua empresa do mesmo valor.
Mas negou sempre que a prioridade nos pagamentos da Câmara Municipal fosse definida em função da predisposição dos credores da autarquia de lhe emprestarem esse dinheiro.
«Não montei nenhum esquema. O MP não foi justo comigo», afirmou, explicando que, enquanto autarca, seguia critérios para pagar aos credores que tinham a ver com a antiguidade do débito e o montante.
Garantiu também que só pedia endosso de cheques aos credores ressarcidos pela autarquia que eram seus amigos pessoais e que entendia terem condições para o ajudar.
«Daí não me parecer que estivesse a cometer nenhum crime. (¿) Se tivesse a percepção de que estava a cometer um crime, não teria feito as coisas assim», frisou.
Lindorfo Costa acrescentou que o facto de ser autarca, não o podia impedir de pedir ajuda aos seus amigos.
«Na altura, pareceu-me que tudo o que estava a fazer era muito claro e transparente», insistiu, assegurando que «não era por as pessoas não acederem àquilo que eu propunha que eu as ia prejudicar».
«Se eu soubesse que viria a passar por isto...»
Lindorfo Costa depôs durante cerca de três horas e meia perante um colectivo dirigido pela juíza Teresa Silva, a mesma magistrada que liderou o julgamento do processo relacionado com a queda da ponte de Entre-os-Rios.
O arguido justificou os pedidos de endosso de cheques para fazer face às dificuldades de uma empresa têxtil de Sande, Marco de Canaveses, de que era sócio-gerente e que empregava uma centena de pessoas.
«Se eu soubesse que viria a passar por isto, tinha fechado [a firma]», assegurou, garantindo que pessoalmente nada ganhou com os empréstimos obtidos através do endosso dos cheques que a autarquia passava aos seus credores.
O julgamento prossegue na manhã de 19 de Dezembro, estando por ouvir 22 testemunhas, incluindo credores da autarquia que endossaram cheques a Lindorfo Costa.
Na base deste processo e de um outro, que aguarda marcação do julgamento e em que o arguido é o próprio Avelino Ferreira Torres, está uma denúncia feita em 2004 pelo cidadão Gil Mendes, que relacionava a antiga equipa gestora da autarquia de Marco de Canaveses com crimes de peculato envolvendo quantias «astronómicas».
A Polícia Judiciária (PJ) investigou o caso e concluiu que cheques emitidos pela autarquia para pagar a fornecedores acabaram endossados e depositados em contas de Ferreira Torres, da sua ex-chefe de gabinete, Assunção Aguiar, e do vice-presidente Lindorfo Costa.
Já em fase de instrução, caiu a acusação contra a chefe de gabinete porque Assunção Aguiar assumiu ser apenas titular formal das contas e não dona do dinheiro.
Marco de Canaveses: «Não montei nenhum esquema»
- Portugal Diário
- 28 nov 2007, 15:11
Ex-vice de Ferreira Torres nega em tribunal acusações de abuso de poder
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