«O que ele diz é tudo mentira». «Estou de consciência tranquilíssima». As frases categóricas são de Rogério Isidoro, o tio de Mariana, a quem o ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão acusa de ter morto as três jovens, suas vizinhas.
Desafiado pelo juiz a explicar «por que motivo o arguido aponta para si e não para outra pessoa qualquer?», a testemunha respondeu: «Interrogo-me muitas vezes sobre isso. Talvez por eu ter contacto com duas vítimas. Uma era minha prima direita (Isabel Cristina), a outra morava comigo (Mariana, sobrinha da sua mulher)».
À insinuação, do arguido, de que teria mantido um relacionamento amoroso com Mariana, a testemunha respondeu «é pura mentira», muito embora tenha admitido que saiu com ela na noite de 6 para 7 de Outubro de 2005. Mariana desapareceu a 14 de Outubro.
Uma saída explicada «porque havia um rapazito em quem a Mariana andava de olho e ela queria ver se o encontrava» nos dois bares aonde se deslocaram, na zona de Mortágua. Rogério admitiu, ainda, que se relacionava «muito bem» com a sobrinha.
[Recorde-se que na noite seguinte, 7 para 8 de Outubro, Mariana saiu com um amigo a quem terá confessado que mantivera uma relação sexual com um homem e de que se envergonhava. Um segredo «que iria levar com ela», segundo referiu o amigo].
No dia 8 de Outubro a jovem terá inclusivamente ingerido uma dose excessiva de comprimidos, um facto que foi confirmado pela tia Isabel Sousa, mulher de Rogério, que também prestou depoimento durante a tarde.
Durante mais de uma hora em que prestou depoimento, Rogério Isidoro disse que pernoitou de 13 para 14 de Outubro com a mulher e o filho menor, em Castro Daire, onde a mulher é educadora de infância. A família regressou a Santa Comba ao final da tarde de dia 14 de Outubro «entre as 19 horas e as 19:30», sendo certo que a sobrinha desaparecera nesse dia de manhã.
Verdades no meio de «mentiras»
Rogério Isidoro garante nunca ter visto as cartas que o arguido enviou a 25 de Julho de 2006 à PJ, acusando-o dos três homicídios.
Mas no meio das «mentiras» a testemunha conseguiu encontrar alguns factos verdadeiros, designadamente que se deslocou a casa do arguido por duas vezes. «Fui lá falar com o filho dele, André, a respeito de pássaros», justificou.
A primeira visita ocorreu em Abril de 2005, pouco antes de desaparecer a primeira vítima, Isabel Cristina. A testemunha não conseguiu precisar a data da segunda visita. O arguido refere na carta que tal aconteceu a 13 de Outubro, na véspera do segundo desaparecimento.
António Costa referia ainda nas missivas que Rogério pediu sempre «sacos de ração» (iguais aos que serviram para ensacar as vítimas) e que na terceira visita até solicitou o carro do ex-cabo emprestado, precisamente na altura em que desapareceu a terceira rapariga, Joana. A tudo, o tio de Mariana respondeu da mesma maneira. «Nada disso é verdade».
Rogério descreve o contexto do terceiro contacto com António Costa, já após o desaparecimento de Mariana. «Andávamos nas buscas com a GNR quando ao chegar à carrinha me deparei com o senhor Costa». O antigo militar colocou-lhe então «várias questões sobre o desaparecimento. Achei normal este espírito de investigação num GNR», relatou.
Nas cartas juntas ao processo, o ex-cabo refere ainda que Rogério foi a sua casa a 9 de Maio de 2006, dia seguinte ao desaparecimento da terceira vítima, tendo ficado «muito irritado» quando o arguido o interrogou sobre o «sangue encontrado no carro» que lhe emprestara.
Foi nessa altura, na versão do arguido, que Rogério lhe terá apontado uma arma à barriga, ameaçando matá-lo a ele, ao filho e à mulher. «Nunca tive conversas desse género», rebateu a testemunha.
Sentando no seu banco, o arguido ia abanando com a cabeça e dando instruções à advogada.
Leia a continuação deste artigo: «Há uma carta nova no processo»
Leia ainda o artigo sobre a sessão da manhã: Serial Killer era quase «graxista»</
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Serial Killer: «É tudo mentira»
- Cláudia Rosenbusch
- 20 jun 2007, 21:45
![Julgamento do <i>serial killer</i> - Foto Paulo Novais para Lusa](https://img.iol.pt/image/id/6466027/1024.jpg)
Tio de Mariana respondeu às acusações do ex-cabo da GNR, que o responsabiliza pelos três crimes. «Estou de consciência tranquilíssima». Testemunha explicou ainda por que motivo o arguido o acusa. Há uma carta nova no processo
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