Casa Pia: seis anos depois, a hora da verdade? - TVI

Casa Pia: seis anos depois, a hora da verdade?

Um processo de números, de figuras públicas, de política, mas sobretudo de vítimas

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Foi a 1 de Fevereiro de 2003 que Portugal parou sem querer acreditar no que os olhos viam. Carlos Cruz, uma das mais conceituadas e respeitadas figuras públicas em Portugal, foi preso. A cruz da pedofilia ficou desde este dia ligada à sua imagem. Dizer Casa Pia é também dizer Carlos Cruz, mas este mega-processo é mais do que isso. Casa Pia é um «caso de estudo» para a Justiça e um marco no sistema penal. Esta sexta-feira e depois de muitos números e episódios, Portugal espera finalmente a hora da verdade.

A notícia de abusos sexuais a menores numa instituição de menores é motivo suficiente para escandalizar, no entanto, foi com o envolvimento de figuras públicas e com a chegada do processo à esfera política que a verdadeira surpresa se instalou. Hugo Marçal, Ferreira Diniz, Manuel Abrantes, Gertrudes Nunes, Jorge Ritto e Carlos Silvino são nomes que os portugueses só conhecem pelo envolvimento com o processo.

O envolvimento de Paulo Pedroso no processo foi um «terramoto político» que levou o juiz Rui Teixeira à Assembleia da República para um pedido de levantamento de imunidade parlamentar.

Uma prisão preventiva, também aplicada a Carlos Cruz, e que adensou as suspeitas graves à volta dos arguidos. Não era fácil acreditar que figuras públicas inocentes estivessem detidas, mas a ideia de culpa era igualmente inacreditável.



O envolvimento de Ferro Rodrigues e a divulgação de escutas com palavras impróprias foi outro dos episódios marcantes.

Não pela implicação no processo judicial que veio a decorrer sem qualquer político envolvido, mas sim pelas repercussões no sistema penal e na ligação dos media com a justiça. A divulgação de escutas em segredo de Justiça continuou a acontecer em Portugal, ainda que com mais «cuidado». No entanto, a reforma penal de 2007 veio colocar um «travão» à divulgação de peças processuais.

A ligação do processo Casa Pia à reforma penal de 2007 não é aceite por todos, mas terá implicações na sentença. Os arguidos serão condenados por crime continuado com cada vítima e não pelo número de abusos cometidos.

Casa Pia, um monstro de números

Cinco anos e dez meses temos o «monstro». Milhares de horas de sessões deram origem em números que parecem impossíveis. Um dos mais impressionantes é o número de testemunhas ouvido: 920. A estes juntam-se as 32 alegadas vítimas, 19 consultores técnicos e 18 peritos.

Organizadas em 273 volumes e 588 apensos estão mais de 66 mil folhas, nos quais estão os cerca de dois mil requerimentos e os 168 recursos interpostos. Foram ainda usados mais de mil cd e 352 dvd, quase mil cassetes áudio e mais de uma dezena de cassetes vídeo VHS. «Um caso de estudo», admitiu o Conselho Superior de Magistratura.

As vítimas e as frases

Casa Pia é um processo de números, de figuras públicas, de política, mas sobretudo de vítimas. São elas que esta sexta-feira buscam a Justiça. Das 32 vítimas, algumas ainda hoje contam a sua história, de sucesso ou de insucesso.

Das muitas entrevistas dadas fora do julgamento saíram frases que parecem resumir o que muitos estão à espera que aconteça esta sexta-feira. «Processo Casa Pia vai ter dois condenados: o Bibi e eu», confessou Souto Moura. Carlos Cruz deu à TVI a primeira entrevista depois de anos em silêncio, onde se confessou como um «indivíduo assassinado civicamente».
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